A Condição dos Gentios sem Deus [ EBD ] 2° Trim. 2020

Lição 06 - A Condição dos Gentios sem Deus

Lição 6: A Condição dos Gentios sem Deus Escola Dominical | 2° Trimestre 2020Subsídio De Apoio ao Professor. 

Os gentios não tinham parte com a promessa de Abraão e, por isso, não eram herdeiros das promessas. Nesse sentido, a Epístola aos Efésios mostra a condição da posição gentílica: incircuncisos, sem Cristo, separados de Israel e longe da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. Nesta lição, temos a oportunidade de constatar a real situação do ser humano sem Deus e o quanto ele carece da graça e da misericórdia divina.

(Efésios 2.11,12)  “Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos que, na carne, se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; que, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”

Introdução

Na presente seção, Paulo lembra aos gentios que, antes da regeneração, eles eram incircuncisos e tinham experimentado cinco formas de privação: (1) estavam sem Cristo; (2) eram separados de Israel; (3) alienados quanto à promessa; (4) sem esperança; e (5) sem Deus no mundo (Ef 2.11-12). 

Neste capítulo, estudaremos cada um desses aspectos, listados pelo apóstolo como desvantagens dos gentios em relação aos judeus. Como é possível perceber nessa exposição sintetizada, a condição dos gentios era desesperadora e sem perspectiva alguma. Matthew Henry faz uma tradução livre da abertura do versículo  do seguinte modo: “Vocês deveriam lembrar o que vocês foram, para se humilharem e despertarem seu amor e gratidão a Deus”. De fato, o texto paulino convida a todos os pecadores regenerados a refletir acerca da conduta de erros de outrora.

Essa reflexão realizada com sinceridade aumentará inevitavelmente nosso amor e nossa gratidão para com Deus. Assim como os gentios destinatários da carta aos Efésios, igualmente estávamos enquadrados nessas pavorosas restrições. Outrossim, estando ainda mortos em nossos delitos e pecados, aprouve a Deus propiciar também aos gentios um meio de salvação pela sua riquíssima misericórdia e pelo seu muito amor (2.4).

I. CHAMADOS INCIRCUNCISÃO

 1. O Conceito de Circuncisão

Circuncisão é a remoção cirúrgica do prepúcio do órgão sexual masculino. Foi prescrito como sinal externo de quem pertencia ao povo da aliança com Deus. Essa era a marca do Pacto Abraâmico e deveria ser rigorosamente observada por todos do sexo masculino (Gn 17.10-11). O procedimento era realizado no oitavo dia de vida dos nascidos em Israel ou estrangeiros comprados a dinheiro (Gn 17.12; Lv 12.3). Quem não era circuncidado era considerado “incircunciso” e, portanto, excluído da aliança (Gn 17.14). O rito tornou-se um sinal perpétuo que distinguia os judeus dos demais povos — os gentios.

No texto, não está registrado o passo a passo da execução do ritual, porém Wycliffe avalia que, na extração da pele que recobre o órgão sexual masculino, “aparentemente, instrumentos cortantes de pedra eram usados pelos pais da criança” (Êx 4.24-26).135 O pacto da circuncisão, todavia, foi negligenciado durante o jornadear do deserto (Js 5.5-7). Conjectura-se que o descumprimento do rito está relacionado com as condições insalubres da peregrinação. Não obstante, após 40 anos, todos os homens circuncidados que saíram do Egito estavam sepultados.

Desse modo, tornou-se imperioso circuncidar os homens nascidos no deserto (Js 5.7). Assim, antes de tomar posse da Terra Prometida, Josué confeccionou facas de pedra e circuncidou-os na “colina dos prepúcios” (ver Js 5.2-3).

2. O significado Religioso da Circuncisão

O significado religioso apontava para a pureza espiritual e a santificação (Êx 19.5,6). Como a corrupção e as práticas idólatras estavam fortemente relacionadas com a sexualidade depravada, a circuncisão simbolizava a aliança de purificação requerida ao povo escolhido (Jr 5.7; Os 4.14). Era algo tão sério que os judeus recusavam-se até mesmo a comer com os incircuncisos (At 11.3). O Dicionário Bíblico Wycliffe apresenta a seguinte abordagem: A circuncisão era um sinal adequado para o povo escolhido de Deus, porque a pureza espiritual e a santidade deveriam caracterizar a sua vida.

Como a corrupção do pecado frequentemente se manifesta com força peculiar na vida sexual, Deus exigiu que o seu povo simbolizasse a santificação das suas vidas por meio da purificação do órgão que serve para a reprodução da vida.Não por acaso, ao escrever a sua epístola aos irmãos de Gálatas, Paulo enfatiza que as obras da carne manifestam-se com pujança na área sexual, as quais são: “prostituição, impureza, lascívia” (Gl 5.19). Ao orientar os irmãos em Corinto, o apóstolo ensina que o pecado da imoralidade sexual é cometido contra o próprio corpo (1 Co 6.18) e acrescenta a seguir que o corpo é templo do Espírito Santo; portanto, em nosso viver, devemos glorificar a Deus com nosso corpo (1 Co 6.19,20, NVI).

Assim, o princípio de pureza e santidade permanece em vigor, devendo sempre ser observado pelos que pertencem a Deus. 

3. A Circuncisão do Coração 

O apóstolo reconhece que os gentios não faziam parte da circuncisão, mas faz uma ressalva: o sinal dos judeus era apenas físico e realizado por mãos humanas (Ef 2.11b). Ele destaca que a verdadeira circuncisão não é aquela evidenciada por um código escrito, na esfera da legalidade, mas aquela que acontece no interior, na esfera do Espírito (cf. Lv 26.41; Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4; 9.26; At 7.51). As Boas Novas enfatizadas nos escritos de Paulo eram que a circuncisão agradável a Deus não era a externa, operada na carne pelos homens, mas a que acontece “no interior […], a que é do coração […], cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.29).

Acerca dessa proposição paulina, Stott afirma que: Esse conceito não é uma inovação de Paulo, pois ocorre regularmente no Antigo Testamento. No Pentateuco Deus reclama dos “corações incircuncisos” de seu povo […] Depois são os profetas que utilizam a mesma imagem […] Mas o que Paulo está procurando é muito mais que isso. Ele busca “uma circuncisão do coração que substitua completamente o ritual físico, e não meramente o complemente”. Além disso, tal circuncisão se dará pelo Espírito, e não pela lei escrita. Isto é, ela é Obra do Espírito Santo, realizada interiormente, de tal maneira que um código escrito e exterior nunca poderia realizar, Desse modo, o apóstolo condena o legalismo judaico que ensinava ser a circuncisão uma segurança de salvação.

Ele salienta que os judeus estavam enganados ao considerar que a mera circuncisão física era de alguma utilidade (Rm 2.25-27). Os rabinos afirmavam que “o homem circuncidado não iria para o inferno”.138 Essa falsa segurança foi contestada com veemência na Epístola aos Romanos (Rm 2.28-29). A circuncisão só teria valor se fosse acompanhada da obediência e de transformação (1 Co 7.19; Gl 5.6). Por fim, Paulo esclarece que, na pessoa de Cristo, o sinal de quem pertence a Deus não é a circuncisão e nem a incircuncisão, mas, sim, o ser uma nova criatura (Gl 6.15).

4. A Circuncisão na Nova Aliança 

No início da Igreja, alguns judeus conversos queriam obrigar os gentios cristãos a cumprir a Lei Mosaica. Esse grupo de judeus ficou conhecido como “judaizantes” pelo fato de tentarem impor os costumes judaicos na prática da fé cristã. O assunto da circuncisão, em especial, gerou discussões calorosas entre cristãos judeus e gentios e obrigou os apóstolos a posicionarem-se (At 15.1-2,5-6). Na carta aos Gálatas, por exemplo, Paulo exortou os irmãos a não observarem a circuncisão a fim de não caírem da graça e da fé em Cristo (Gl 5.2-4).

Em Antioquia da Síria, o tema ganhou ampla dimensão, provocou intensos debates e culminou na convocação do Primeiro Concílio da Igreja em Jerusalém: Esses mestres não autorizados encontram forte resistência na Antioquia. O esforço para judaizar a Igreja cria acalorado debate e tem o potencial de dividir a Igreja […]. Por causa do perigo da cisão e da importância da mensagem missionária, uma delegação é enviada a Jerusalém para resolver o assunto. Entre os representantes estão Paulo e Barnabé.

A maior parte dos intérpretes do Novo Testamento é concorde que esse 1° Concílio Eclesiástico da Igreja, o Concílio de Jerusalém, foi realizado em 49 d.C., tempos depois da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé. Na ocasião, reuniram-se os apóstolos, os anciãos e também a Igreja para deliberarem acerca da controvérsia judaizante (At 15.6,12,22). Após um período de contenda, o apóstolo Pedro lembrou a todos como Deus concedera o Espírito Santo também aos gentios (At 15.7,8) e avaliou que a posição judaizante era um ultraje contra o próprio Deus: “[…] por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?” (At 15.10).

Em seguida, Paulo e Barnabé relataram os sinais e prodígios que Deus havia feito por meio deles entre os gentios (At 15.12). Por fim, o apóstolo Tiago, líder da Igreja em Jerusalém, recomendou que os gentios convertidos não fossem molestados com essas questões judaicas (At 15.19). Na sequência, sob a orientação do Espírito Santo, ele pareceu ter agradado a todos e, assim, acalmou os ânimos mais exaltados (At 15.20-30). O parecer ficou conhecido como “decretos apostólicos” e possui quatro recomendações aos gentios convertidos.

Os decretos abordam os aspectos morais e cerimoniais da Lei. A primeira e a segunda orientação parecem ter conexão intencional: “que se abstenham de comida contaminada pelos ídolos” e que vos guardeis da “imoralidade sexual” (At 15.20a, NVI). Esse entendimento dá-se pelo fato de que a idolatria frequentemente envolvia a imoralidade. O terceiro e o quarto decreto também possuem conexão entre si. De um lado, a orientação de abstinência “da carne de animais estrangulados” (At 15.20b, NVI), isto é, carne que retém o sangue, conforme está registrado em Levítico 17.10-14.

E de outro, a recomendação para não comer “do sangue” (cf. Lv 3.17; 7.26; 17.10; 19.26). Percebe-se claramente, portanto, que os decretos apostólicos não fazem nenhuma referência à prática da circuncisão. O objeto principal da controvérsia era a questão da circuncisão (At 15.1-5) e, provavelmente, outra questão secundária, mas também relacionada com a circuncisão, como a associação dos judeus com os gentios (At 11.2-3, Gl 2.11-14). A deliberação dos apóstolos desconsiderou totalmente a necessidade de o cristão circuncidar-se e ainda ratificou que Deus não faz diferença alguma entre circunciso e incircunciso (At 15.9).

A ênfase na Nova Aliança não é o sinal exterior, mas, sim, o interior do homem. De maneira que, agora, no novo pacto, “a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo” (Fp 3.3).

II. ESTRANHOS AO CONCERTO DA PROMESSA 

1. Uma Vida sem Cristo

Na descrição da história passada dos gentios, o apóstolo traz à memória que, “naquele tempo”, isto é, antes da regeneração, eles viviam imersos no paganismo e, portanto, “sem Cristo”. Quanto a essa triste realidade, Stott faz uma anotação perspicaz ao realçar que, “durante todo o período antes de Cristo, os gentios não estavam em Cristo nem com Cristo, mas, sim, separados de Cristo, nem sequer tinham a expectativa de um Messias vindouro”.140 Esse quadro indica que a religiosidade dos gentios era incapaz de inserilos na promessa messiânica de salvação (Jo 4.22). Isso significa que tanto desconheciam a Cristo, como também eram indiferentes quanto às promessas acerca dEle e da sua obra (Hb 8.8-10).

A situação miserável dos gentios incapacitava-os de receberem as bênçãos espirituais, pois todas elas são concedidas “em Cristo” (Ef 1.3ss.). Por isso, a narrativa paulina prossegue caótica e apresenta um quadro desolador de exclusão, ignorância e alienação (2.12b).

2. Separados da Comunidade de Israel

Aqui, o apóstolo salienta a desvantagem gentílica de não pertencerem à comunidade de Israel (2.12b). Eles estavam excluídos não só dos símbolos externos, como também não faziam parte do povo escolhido e, portanto, não poderiam usufruir dos privilégios da aliança de Abraão (Rm 9.4). O Comentário Bíblico Beacon chama atenção para a intensidade do termo “excluído”, que significa total alienação, e não mero afastamento temporário de uma agregação anterior, acrescentando que todos “os gentios estavam fora da comunidade do povo de Deus, com exceção de alguns prosélitos. Mas, mesmo entre estes, ainda permanecia o sentimento de intrusão”.

A constatação cruel era a de que Deus não se revelara para os gentios. A chamada divina fora feita somente a Abraão e à sua descendência (Gn 17.17). Nessa ótica, a Lei e as promessas pertenciam somente aos judeus (At 13,22,23). Desse modo, os gentios tinham sido rejeitados e estavam fora do alcance das bênçãos prometidas a Abraão, Isaque e Jacó (Mt 22.32). Esse sentimento exclusivista abraçado pelos judeus provocava forte animosidade com os gentios. Essa postura judaica culminou em profunda inimizade agravada pela parede de separação construída para impedir o acesso dos gentios ao templo em Jerusalém (Ef 2.14).

Essa barreira, no entanto, não era apenas física ou material; ela também era espiritual e cultural. Ratifica-se, portanto, que a exposição do apóstolo tem por objetivo evidenciar e trazer à memória dos gentios a terrível condição de outrora: “[…] lembrem-se de que anteriormente vocês eram gentios por nascimento” (2.11a, NVI). De fato, um cristão jamais pode esquecer-se de quem era e de onde ele foi tirado por Deus. Nossa condição era tão desalentadora quanto os primeiros leitores de Efésios. Porém, apesar das circunstâncias desfavoráveis e de toda a animosidade da cultura judaica, Paulo ensina que os gentios também se tornaram descendência de Abraão por meio de Cristo (2.13-19; Gl 3.29).

3. Alienados aos Pactos das Promessas 

Como já visto no tópico anterior, por não pertencerem à comunidade de Israel, os gentios estavam inteiramente alienados a qualquer plano de redenção mediado pela promessa messiânica feita aos judeus (At 13.22,23). Eles desconheciam totalmente os vários pactos que Deus estabelecera com os patriarcas israelitas. Esses pactos giravam em torno da grande promessa do advento do Messias (At 13.32). Dentre eles, citamos o “pacto abraâmico” (Gn 12.1-3), o “pacto mosaico” (Dt 28.1-14) e o “pacto davídico” (2 Sm 7.13-16).

 Na verdade, os pactos aqui referenciados não são os únicos, mas são os mais relevantes por serem reiterações da promessa messiânica. A expressão “pacto” também é sinônima de “aliança” e “testamento”. Refere-se a “um acordo entres duas ou mais pessoas em que quatro elementos estão presentes: partes, condições, resultados e garantias”.142 Em nossa análise, enfatizaremos apenas o “pacto abraâmico”. Embora esse pacto tenha sido realizado pessoalmente entre Deus e Abraão e embora a promessa faça uma referência direta à descendência do Patriarca (Gn 12.1-3), ainda assim é possível perceber uma abertura para a inclusão dos demais povos: “[…] em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3c).

Os judeus, no entanto, não se aperceberam desse detalhe, ou ignoraram essa possibilidade, não a entendendo, ou preferindo interpretá-la doutra maneira. Hoje, após a revelação contida na Nova Aliança, sabemos que os gentios também estavam inclusos na promessa no plano divino (Gl 3.29). Isso, porém, só seria possível por meio de Cristo (Gl 3.14-16), de modo que, “antes” de Cristo e da revelação do mistério oculto (Cl 1.26,27), os gentios estavam excluídos das alianças.

De qualquer maneira, Paulo ratifica que, no exclusivismo judaico, os gentios não estavam incluídos no “pacto abraâmico” e revela que a inclusão somente foi possível pela obra de Cristo (2.13-19). A fim de ressaltar essa perspectiva de alienação gentílica em relação aos pactos e às promessas, transcrevo abaixo a explanação de Francis Foulkes, na sua obra Efésios:

Introdução e Comentário:

A promessa para os judeus, a promessa do Messias, estava envolvida nas alianças com Abraão e os patriarcas (Gn 17.1-4; 26.24; 28.13-15), e com a nação sob Moisés (Êx 24.1-11). As alianças trouxeram Israel a uma relação especial de graça com Deus, e assim à esperança de uma libertação e glória futura que seria deles. Mas até este ponto, os gentios não tinham sido incluídos nestas alianças. De maneira que permaneciam como um povo sem esperança.Diante desse quadro, os gentios não estavam apenas privados das promessas divinamente conferidas a Israel, como também não possuíam qualquer tipo de esperança.

Os gentios sequer tinham noção dos pactos e das suas promessas e, por conseguinte, estavam desassistidos de qualquer promessa ou esperança. E aqui é revelada outra vez a grandeza do amor divino. Esses alienados gentios, pelo sangue de Cristo, foram inseridos nos pactos e tornaram-se herdeiros da promessa: “E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa” (Gl 3.29). Aleluia!

III. SEM ESPERANÇA E SEM DEUS 

1. Desprovidos de Esperança

 A palavra esperança significa “confiança”, e o seu principal uso nas Escrituras é de confiança nas promessas divinas (Sl 130.5; Jr 17.7). Os gentios eram destituídos da esperança de salvação e de vida eterna. Suspeita-se que parcela dessa tragédia espiritual repousava no ensino de parte da filosofia que descartava a possibilidade de uma vida além-túmulo e, menos ainda, que pudesse ser ditosa.

Epicuro (341–270 a.C.) ensinava que o prazer é o início e o fim de uma vida, que nada existia após a morte e que, portanto, nada havia para ser temido: Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. 

E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.144 Outros filósofos pagãos eram mentores das ideias de Epicuro, tais como Hegesias de Cirene (290–330 a.C.) e Protágoras de Abdera (481–411 a.C.). De outro lado, Sócrates (470–399 a.C.) acreditava na imortalidade da alma, porém vivia atormentado pela voz de um “deus” chamado por ele de daimonion, que era, na opinião do filósofo, um ser inferior aos deuses, mas superior aos homens.

A ele é atribuída a frase: “Só sei que nada sei”. Aristóteles (384–322 a.C.), aluno de Platão, alimentava dúvidas acerca do tema. Em contrapartida, Platão (429 a.C.), aluno de Sócrates e professor de Aristóteles, embora admitisse a sobrevivência da alma após a morte, não possuía a revelação divina para explicar como ela poderia ser redimida. 

Ao discorrer sobre essa horrenda situação das pessoas que vivem sem esperança de redenção, o Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento declara o seguinte: Em um mundo de degradação, com todos os seus pecados, sofrimentos e morte, a humanidade precisa de uma esperança infinita que somente a fé em Cristo pode proporcionar. De outra forma a vida é uma escuridão tenebrosa, desesperançosa e aflita. Os gentios não tinham a esperança de Israel, nem a revelação do Deus de Israel.

Somado a essa condição de escuridão espiritual, bem como as questões contraditórias da filosofia pagã, os gentios depositavam a sua confiança nos falsos deuses do panteão greco-romano. Assim, embora Deus tivesse decretado incluir os gentios no plano da salvação, eles ignoravam esse fato e, em consequência, não conheciam a promessa messiânica, onde pudessem sustentar qualquer esperança (1 Cr 29.15). Nesse sentido, o Comentário Bíblico Beacon ressalta que os gentios, “antes de ouvirem e responderem à palavra da graça, eles não tinham parte ou parcela no povo messiânico, fato que significa que eles não possuíam a esperança do Messias ou qualquer benefício que viesse junto com isto”.

Desse modo, como estavam sem Cristo, excluídos da comunidade de Israel, alienados quanto aos pactos e as suas promessas, os gentios viviam sem expectativa tanto no presente quanto no futuro (1 Co 9.10). Sarcerius, em Anotações sobre Efésios, considera que “por esperança, Paulo se refere também à fé, que, naquele tempo, os gentios não podiam ter porque eram estranhos às alianças de Deus, que somente a fé salvadora pode entender”.

Trilhando por esse caminho tortuoso, um abismo chamava outro abismo, e a vida dos gentios seguia escravizada (Sl 42.7). Nada muito diferente disso também aconteceu conosco quando vivíamos distantes de Cristo. Como a esperança é âncora para a alma, os gentios desprovidos dela padeciam de medo e incertezas (Hb 6.18- 19; 2 Co 7.10). Consequentemente, a falta de esperança e de paz estava associada à ausência do verdadeiro Deus. 

2. Sem Deus no Mundo 

A expressão “sem Deus” não significa que os gentios não serviam ou não acreditavam em divindade (1 Co 8.4; Gl 4.8). Ao contrário, eles eram politeístas e idólatras, acreditavam e adoravam muitos “deuses”, mas estavam sem o conhecimento do Deus que se havia revelado a Israel (Êx 30.2). No seu paganismo, viviam em total desconhecimento do Deus único e verdadeiro.

Isso implica concluir que os gentios estavam sendo conduzidos por falsos deuses que os mantinham em escravidão e densas trevas espirituais. Trata-se de uma descrição calamitosa. Felizmente, esse quadro foi alterado pela intervenção dos desígnios eternos do verdadeiro Deus (Jo 17.3). Na sequência do texto aos Efésios (2.13ss.), o apóstolo Paulo “compara a miséria original em que os gentios viviam antes de aceitarem a Cristo pela fé, com a felicidade em que foram integrados pela fé nele, de modo a fazer que a grande e misericordiosa bênção de Deus fosse a maior de todas”, tema que será abordado a seguir.