A Batalha Espiritual e as Armas do Crente [ EBD ] 2° Trim. 2020

Lição 13: A Batalha Espiritual e as Armas do Crente

Lição 13: A Batalha Espiritual e as Armas do Crente Escola Dominical | 2° Trimestre De 2020Subsídio Apoio ao Professor

Introdução

Nessa batalha, a fim de suportar os ataques e manter-se firme na marcha contra o mal, os soldados de Cristo precisam estar revestidos de toda a armadura de Deus (Ef 6.10-20). Essa passagem não é um apêndice da Epístola, mas uma clara advertência da necessidade do engajamento dos cristãos no combate espiritual. Nessa concepção, as palavras de Paulo servem de alerta para a necessária vigilância da Igreja de Cristo. O apóstolo reconhece a existência de uma furiosa e renhida batalha espiritual, adverte-nos acerca da hostilidade dessas forças malignas e ensina-nos como combatê-las e vencê-las.

Em contrapartida, as Escrituras asseguram que o povo de Deus não está à mercê da fúria do inimigo. Deus não deixou a sua Igreja vulnerável diante das hostes do mal. Ao contrário, uma poderosa armadura espiritual está disponível a todos os cristãos (Ef 6.11,13). O poder de Deus que ressuscitou Cristo dos mortos é quem fortalece o povo de Deus; portanto, a Igreja não está desarmada e nem tampouco despreparada para a batalha.

I. O PREPARO ESPIRITUAL PARA A BATALHA 

1. Daqui por diante… 

Até esse ponto da Epístola, Paulo apresenta a bênção do evangelho que elimina a hostilidade (2.14-22) e discorre acerca de orientações para dar fim à rivalidade nas relações domésticas e na vida em sociedade (5.22-6.9). O conjunto dessas instruções diz respeito às “coisas que eliminam divergências e produzem a unidade e a paz”. Nessa perspectiva, a ideia de guerra e batalha parece um assunto inadequado para abordar à primeira vista. Porém, se Paulo explicou a necessidade da unidade no corpo de Cristo nos primeiros capítulos, ele agora explicita mais profundamente essa necessidade em virtude dos conflitos inevitáveis com o mal.

Desse modo, a Igreja deve estar prevenida e preparada para resistir e lutar. Paulo inicia essa exortação nos seguintes termos: “quanto ao mais, sejam fortalecidos no Senhor” (6.10a, NAA). No grego, temos aqui uma variante textual. Alguns manuscritos empregam a expressão to loipon, que quer dizer “ademais, quanto ao mais, resta, no demais, finalmente” (ver 2 Co 13.11; Fp 3.1; 4.8; 2 Ts 3.1), e também tou loipou, que significa “do restante, daqui para frente” (Gl 6.17).

Nessa obra, adotamos a última expressão que indica como deve ser a vida dos cristãos “daqui por diante”. Nesse sentido, ratifica-se a importância da exortação paulina: temos inimigos a combater, um capitão por quem pelejar, uma bandeira para defender e regras de guerra para obedecer. E, para essa batalha espiritual, o cristão deve estar fortalecido no Senhor (Ef 6.10). 

2. Fortalecidos no Poder do Senhor 

A exortação apostólica “fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder” (6.10) indica que esse poder que garante vitória contra o mal não provém do homem, mas emana do próprio Deus. Isso está claro no emprego do termo grego endynamoo (fortalecer em). O verbo está conjugado no presente e na voz passiva endynamousthe, que é mais bem traduzido como “sede dotados de força em, sede fortalecidos”.Essa versão ratifica que essa força e esse poder vêm do alto. Refere-se ao campo espiritual, e não acerca de força física (2 Co 10.4). Ratifica-se, desse modo, que a forma passiva do verbo significa que não temos poder em nós mesmos (Jo 15.1-5).

Ninguém pode vencer as hostes da maldade com a própria força. O cristão é dependente do poder e da força de Deus. Elucida-se que um dos atributos incomunicáveis de Deus é a Onipotência, isto é, todo o poder vem do Senhor (Rm 13.1). Isso quer dizer que não há impossível para Ele; tudo Ele pode absolutamente fazer (Lc 1.57). Nesse sentido, acentua-se que o poder divino é ilimitado e que jamais poderá ser resistido, impedido ou anulado, seja pelo ser humano, seja pela natureza, ou mesmo por seres angelicais. Deus é o El-Shadday (Todo-Poderoso), e esse excelso e imensurável poder é-nos conferido pela comunhão com Ele em Cristo, por meio do Espírito Santo (Jo 15.7; 1 Jo 1.3).

Por conseguinte, o apóstolo convoca os cristãos a estarem fortalecidos nesse poder. A combinação pleonástica “força do seu poder” denota a grandeza da capacidade divina que está à disposição do crente. Portanto, para pelejar e ser vitorioso nessa batalha, o cristão precisa buscar o revestimento de tal poder. O combate é intrépido, feroz e belicoso. Os inimigos são os seres espirituais da maldade (Ef 6.12). As Escrituras ensinam que tanto os seres espirituais bons quanto os maus possuem “poder extraordinário […], estão acima dos seres humanos”.

Assim, somente um crente tolo e que não conhece as Sagradas Escrituras tenta vencer o Diabo e os seus demônios pela sua própria força. De outro lado, salienta-se que todo o poder que os entes malignos possuem foi concedido por Deus antes da rebelião de Satanás e os seus demônios. Por essa razão, ressalta-se que o poder maligno é infinitamente menor que o poderio de Deus e que Satanás somente age até onde o Deus Todo-poderoso assim o permitir (Jó 1.9-12). Não obstante, Satanás está vivo e ativo no planeta Terra, mas o poder de Deus também está disponível aos fiéis para “pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo” (Lc 10.19).

Portanto, conforme se infere da orientação paulina nos versículos anteriores, os cristãos devem ser fortalecidos por meio da “renovação da mente” (Ef 4.23); da “vida em santidade” (4.24) e “ser cheio do Espírito” (5.18). A vitória não pode ser alcançada por outro meio. Conhecer as Escrituras sem a devida obediência e frequentar os cultos sem a genuína conversão não são suficientes. No conflito com os poderes demoníacos, os cristãos têm de utilizar, de forma imediata e contínua, o poder de Cristo para terem vitória.

2. Vigilantes em toda a Oração e Súplica 

No preparo espiritual para a batalha, Paulo enfatiza a necessidade de uma vida cristã plena por meio da oração e súplica. Não é possível entrar em combate sem a cobertura da oração (Lc 21.36). Satanás faz uso de variados ardis e toda sorte de sutilezas e, por isso, ataca de formas e de modos diferentes. O adversário é astuto, dissimulado, vingativo, covarde, depravado, caluniador, odioso e mentiroso.

Por conseguinte, o apóstolo exorta os salvos a buscarem a Deus com toda a oração e súplica no Espírito, em todo o tempo (Ef 6.18). Isso engloba toda forma de clamar pelo favor divino em qualquer circunstância e em todas as oportunidades. A oração faz parte do conflito contra Satanás, e deixar de orar é o equivalente a render-se ao inimigo.

A exortação inclui orar no Espírito. Indica que somos assistidos por Ele em nossa fraqueza para orar como convém (Rm 8.26). O Comentário de Aplicação Pessoal destaca que “o Espírito intercede por nós (Rm 8.27); o Espírito torna Deus acessível (Ef 2.18); o Espírito nos dá confiança quando oramos (Rm 8.15-16; Gl 4.6). Ele nos inspira e guia […]. Ele nos ajuda a nos comunicarmos com Deus e também nos traz a resposta dEle”.O apóstolo ainda acrescenta à oração a necessidade da vigilância e da constância: “Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (6.18).

Isso sinaliza que o cristão não deve subestimar as forças de Satanás em momento algum. A vigilância preserva o crente das astutas ciladas do inimigo (Sl 124.7). O clamor, portanto, deve estar acompanhado de alerta constante para que as orações não sejam impedidas (Is 59.1,2). A intercessão não pode ser egoísta, mas deve ser mútua em favor de todos os salvos (Tg 5.16). Se alguém insistir em lutar com as próprias forças, tombará no campo de batalha (2 Tm 2.4,5). A vitória contra o mal somente é possível por meio do fortalecimento do poder de Deus, resistência ao pecado, oração e vigilância constante. 

II. CONHECENDO O CAMPO DE BATALHA 

1. As Astutas Ciladas do Diabo 

Paulo admoesta os seus leitores a oferecerem resistência “para estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (6.11b). A expressão “ficar firme ou oferecer resistência eram termos militares que significavam resistir ao inimigo, manter a posição, e não se render”. Para tanto, é indispensável ao crente em Jesus revestirse de toda a armadura de Deus (6.11a). O conceito e as particularidades dessa armadura serão abordados no tópico III. A palavra aqui traduzida por ciladas é do grego methodeia, que quer dizer “esquemas”, “planos”, “astúcias” e, na linguagem militar, “estratagemas”.

O termo indica o uso de “meios astutos” com a intenção de ludibriar e surpreender. A versão ARC traz o pleonasmo “astutas ciladas”, e as versões ARA, NVI, TB e NAA traduzem simplesmente como “ciladas”. Não obstante, Foulkes alerta ser essa a primeira indicação da dificuldade da luta. Não se trata de uma luta contra as forças do homem, mas contra os estratagemas de um inimigo espiritual, contra os planos sutis do inimigo das almas. O adversário é astuto, sagaz e ardiloso, isto é, “cheio de astúcias”. Astúcia é um vocábulo derivado do grego kubos, que denota “dados que jogam” e significa metaforicamente “artifício ou truque”.

O substantivo astuto indica “conduta sem escrúpulos”, sempre usado no Novo Testamento no sentido de algo ruim. Em consequência, as artimanhas malignas não vão ocorrer de forma perceptível a todas as pessoas. Somente os espirituais e amadurecidos na fé recebem capacidade para discernir os ardis de Satanás (Hb 5.13-14). Em vista disso, a sabedoria humana não é eficaz na batalha espiritual. A Escritura assevera que o homem natural (carnal) não compreende as coisas do Espírito, porque se discernem espiritualmente (1 Co 2.13-14).

Nesse seguimento, ratifica-se que o apóstolo dos gentios usa a expressão “ciladas do diabo” (Ef 6.11c) para esclarecer a ferocidade da batalha e manter os cristãos em permanente estado de alerta. As ciladas são constituídas de “armadilhas” perversamente articuladas pelo reino das trevas. Nelas estão inclusas as múltiplas tentações, a incredulidade, o pecado em geral e a conformidade com o relativismo moral.Certamente que a lista acima não é exaustiva; contudo, percebese em cada um desses estratagemas a presença de sutileza e sagacidade maligna. O engano, a mentira e o disfarce são especialidades do Diabo; ele é o pai da mentira (Jo 8.44).

E, nesse propósito de engodar, ele está sempre à espreita “bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8) Paulo identifica esse adversário de nossas almas com o termo grego diábolos, que significa “caluniador” e “acusador” (Mt 4.1; Jo 8.44; 1 Pe 5.8). E, conforme assevera o Dicionário Vine, “desse termo é derivada a palavra “diabo” em português, e só deveria ser aplicado a Satanás como nome próprio. Já o termo daimõn sempre deve ser traduzido por ‘demônio’. Desse modo, há um diabo, mas muitos demônios”.Consequentemente, o Diabo é apresentado como o maioral das hostes espirituais da maldade.

Ele comanda o mundo das trevas, o reino do mal que se opõe a Deus. Por ser mestre do ludíbrio e do engodo, “o diabo não lutará honestamente; ele se vale de esquemas e truques ardilosos”. Mercê dessa realidade, o texto sagrado ordena: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus!” (Ef 6.11). Nossa habilidade em oferecer resistência às “astutas ciladas do diabo” dependerá de nossa obediência no uso correto da armadura de Deus. 

2. O conflito contra o reino das trevas 

Paulo salienta que o conflito “não é contra carne e sangue” (6.12a). Não é contra a pessoa humana, mas contra o reino das trevas nas “regiões celestes”. Soares frisa que o termo “carne” tem significados distintos nas Escrituras, mas a combinação “carne e sangue” é um hebraísmo que diz respeito ao ser humano e, flexionadas dessa maneira, “carne e sangue” só aparecem mais duas vezes em todo o Novo Tratamento (Mt 16.17; 1 Co 15.50).

Hendriksen arrazoa que o texto indica a desigualdade dessa batalha, uma vez que a luta não é natural, não é contra homens frágeis, mas contra uma hoste extraterrena inumerável de espíritos malignos, e o Diabo é quem controla pessoalmente todas essas legiões e procura atacar os cristãos. Stott enfatiza que as forças organizadas contra nós não são de pessoas, mas de inteligências cósmicas; nossos inimigos não são humanos, mas demoníacos. Diante disso, fica explícito que a batalha não é física, e sim espiritual, travada no mundo espiritual.

O conflito é contra as hostes do mal, que, debaixo da autoridade do Diabo, mantêm os homens na escuridão (1 Jo 5.19). Nessa mista metáfora, o cenário abrange o campo de batalha com a terminologia militar “estar firme contra as manobras do inimigo” (Ef 6.11) e também o contexto de um lutador na arena por meio da expressão “temos que lutar” (6.12). Isso ilustra a natureza pessoal do conflito “face a face” e também significa que a luta dá-se em todas as áreas, sendo tanto coletiva quanto individual (1 Pe 5.8-9).

3. As Agências das Potestades do ar

Na continuidade do versículo em comento, Paulo identifica as forças do mal que marcham contra a Igreja. O apóstolo menciona a existência de quatro categorias entre as hostes de Satanás que atuam no propósito do reino das trevas dispostas em ordem de batalha contra os crentes, a saber: principados, potestades, príncipes do mundo destas trevas e hostes espirituais da iniquidade (Ef 6.12).

Esses seres são caracterizados por três aspectos: (1) são poderosos: os títulos “principados e potestades” indicam poder, primazia e autoridade para agir; “príncipes das trevas” são líderes de anjos decaídos que exercem domínio sob o comando do Diabo; (2) são malignos: esses agentes formam “as hostes espirituais da iniquidade”. Refere-se a demônios que empregam o seu poder destrutivamente para o mal; (3) são astutos: cheios de sutilezas, eles maquinam a queda da Igreja. A ação desses poderes não pode ser subestimada pela Igreja de Cristo. Embora esses poderes sejam limitados pela sobre-excelente grandeza do poder de nosso Deus, eles não devem ser desprezados ou ignorados pelos servos de Cristo Jesus.

A batalha espiritual é uma realidade registrada nas Escrituras Sagradas e não pode ser negada. Também é necessário tomar cuidado com os extremismos e as extravagâncias nesse assunto. Assim, a crença ou a descrença na ação demoníaca não exime o homem da responsabilidade das suas ações. De um lado, os que vivem alienados das investidas de Satanás tornam-se presas fáceis do astuto tentador, e, de outro, aqueles que vivem o fascínio de “batalhas cósmicas” não bíblicas, muito próximas do esoterismo e do ocultismo, também estão fadados ao engano. Por conseguinte, ratifica-se que os cristãos estão em constante combate contra as hostes comandadas por Satanás.

Na classificação paulina, o termo “principados” é a forma plural do grego arché, com a ideia de primazia de poder ou domínio, e o termo “potestades” é plural de exoussía, que denota liberdade para agir e autoridade para presidir. A expressão refere-se a governos ou autoridades tanto na esfera terrestre quanto na espiritual.“Príncipes destas trevas” significam literalmente “governantes do mundo” que, ao lado de Satanás, governam sobre a atual Ordem Mundial, organizada em rebelião contra Deus.

Stott lembra que eles também são chamados de “os dominadores deste mundo tenebroso”, o que pode ser referência ao título de “príncipe deste mundo”, que Jesus atribuiu ao Diabo (Jo 16.11), bem como a declaração de João de que “todo o mundo está no maligno” (1 Jo 5.19). Quanto às “hostes espirituais da maldade”, compreende-se as vastas hostes de demônios que servem aos propósitos iníquos de Satanás para a destruição geral.Apesar desse imenso império do mal, a Igreja é exortada a não temer.

O Dicionário de Paulo e suas Cartas salienta que, “em contraste com o poder do domínio sobrenatural hostil, Paulo enfatiza a superioridade do poder de Deus e a supremacia de Cristo (Ef 1.19-23; 4.8-10). Ele demonstra que os fiéis têm acesso a esse poder em virtude de sua união com Cristo”.

Doravante, somos incentivados a lutar e, sobretudo, vencer, pois o Senhor da Igreja está elevado ao nível “acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio” (1.21). 

III. AS ARMAS ESPIRITUAIS INDISPENSÁVEIS 

1. A Armadura completa de Deus 

Nesse ponto, o apóstolo arrazoa que Deus fortalece o seu povo; contudo, o seu povo não pode andar desarmado. Assim, fazendo uso de linguagem retirada do contexto militar romano, Paulo exorta os cristãos a revestirem-se de “toda a armadura de Deus” (Ef 6.11). Essa expressão traduz o termo grego panóplia, que significa “a armadura completa de um soldado fortemente armado”. A orientação paulina não é para usar armas próprias, mas fazer uso do equipamento disponibilizado por Deus (6.12). A ordem é revestirse dessas armas, resistir bravamente e marchar contra as potestades do ar.

Conforme a exortação bíblica, é por meio do emprego dessas armas poderosas que o cristão pode oferecer resistência contra as astutas ciladas do Diabo e permanecer firme no dia mau (6.11,13). Ressalta-se que a determinação de Paulo é textualmente “revestir-se” da armadura de Deus (6.11). O termo grego endysasthe quer dizer “estar vestido com”. O verbo é imperativo e está conjugado no plural e no tempo aoristo326 e sinaliza que os eleitos devem vestir a armadura continuamente (em todo o tempo).

Por conseguinte, em vista disso, para que se possa resistir debaixo do ataque mais rigoroso e manter a posição no conflito sem ser abatido, o cristão deve tomar toda a armadura de Deus, ou seja, “a armadura inteira, que indica o equipamento completo, protegendo dos pés à cabeça, tanto ofensiva quanto defensivamente”.

2. As armas indispensáveis de defesa 

Dando continuidade às orientações em linguagem militar, Paulo apresenta metaforicamente uma lista de peças que compõem a armadura vestida pelo soldado romano e, em seguida, mostra a sua aplicação espiritual.São todas essas partes descritas por Paulo que os crentes devem revestir-se no conflito contra as hostes do mal. Soares avalia que Paulo “não foi exaustivo ao elencar os instrumentos bélicos de sua geração. Ele mostra que Deus proveu os recursos necessários para a nossa proteção […]. São armas espirituais à altura do inimigo que temos de enfrentar”. As peças usadas como armas de defesa são as seguintes: 

2.1 O “cinturão da verdade” (6.14a) O cinto era um aparato de couro que garantia que a túnica do soldado permanecesse presa durante a luta, que ajudava a proteger o corpo e que mantinha a espada no seu lugar quando o soldado não estivesse lutando.O cinto retrata a peça usada para dar mobilidade no combate e refere-se à verdade da doutrina de Cristo e à integridade do soldado (Is 11.5; 2 Co 13.8). Foulkes ressalta que a verdade é o que nos dá liberdade e que a falta de perfeita sinceridade embaraça-nos a cada movimento.331

2.2 A “couraça da justiça” (6.14b) A couraça é concernente a uma malha impenetrável de proteção aos órgãos vitais (tais como o coração e os pulmões). Segundo Hendriksen, a couraça cobria o corpo do pescoço até as coxas e consistia de duas partes: uma cobrindo a frente, e a outra as costas (1 Sm 17.5,38; 1 Rs 22.34; 2 Cr 26.14).332 Couraça refere-se à justiça de Cristo, à vida santa e à retidão moral do soldado (Rm 5.1; 6.13; 14.17; 2 Co 6.7). Sem essa proteção, não é possível defenderse das acusações de Satanás.

2.3 Os pés “calçados no evangelho” (6.15) Segundo Stott, trata-se da caliga, a “meia-bota” do legionário romano. Confeccionada em couro, deixava os dedos dos pés livres, tinha solas cravejadas para dar estabilidade e era fixada nos calcanhares e nas canelas com tiras de couro.333 Refere-se à firmeza que o evangelho proporciona e à prontidão do soldado em testemunhar de Cristo (Rm 1.16). Portanto, precisamos manter bem amarradas nossas botas do evangelho de Cristo — a palavra da cruz, que é o poder de Deus (Rm 1.16; 1 Co 1.18). 

2.4 O “escudo da fé” (6.16) Longo e retangular feito de madeira e couro e às vezes com uma armação de ferro. Ele media aproximadamente 1,30m de altura e 66 cm de largura334 e protegia o corpo inteiro dos dardos incendiários. Refere-se à fé inabalável em Deus que extingue a eficácia das calúnias, dúvidas e rebeliões disparadas pelo Diabo (Pv 30.5). Matthew Henry considera que “a fé é tudo em todos em qualquer momento de tentação. A couraça protege os órgãos vitais; mas com o escudo revertemos qualquer ataque”.

2.5 O “capacete da salvação” (6.17a) Pesado e resistente, fabricado com bronze ou de ferro, servia de proteção para a cabeça, e apenas um machado ou um martelo poderia rachá-lo. Refere-se à certeza da salvação que já recebemos em Cristo e à convicção da plena salvação no derradeiro dia (1 Ts 5.8-9). Considera-se que a mente do crente é o maior campo de batalha da guerra espiritual.Desse modo, a salvação protege nossa mente dos ataques inimigos. 

3. A imprescindível arma ofensiva 

Após descrever em detalhes as partes que compõem as armas de defesa da panóplia, provavelmente na ordem em que eram vestidas pelo soldado romano, Paulo reserva “a espada como arma mais enfática, e obviamente ofensiva, para a culminação final”.O Comentário de Aplicação Pessoal traz informação que o uso da espada curta e afiada era uma das maiores inovações militares de Roma. A lâmina dupla tornava-as ideais para a estratégia de “cortar e espetar”.

Nessa perspectiva, Paulo ilustra essa arma como “a espada do Espírito” (Ef 6.17b). Na realidade, conforme a ilustração paulina, essa é a única arma que não é usada exclusivamente como defesa. Ela está disponível para ser empregada tanto para a defesa quanto para o ataque. O termo grego machaira identifica-a, como já observado, como a espada curta dos romanos, que media entre 30 e 35cm. Ela era usada no combate à curta distância, isto é, “corpo-a-corpo”. Isso sinaliza que o enfrentamento é inevitável e que o inimigo está à espreita — mais perto do que se imagina (ver 1 Pe 5.8).

A espada é identificada como a “Palavra de Deus”. Shedd avalia que se refere à “mensagem do Evangelho, quando ela vem sendo aplicada pelo Espírito de Deus, e quando isso acontece, verifica-se que a transformação de Cristo se manifesta”.Stott considera que “ainda hoje é a espada divina porque o Espírito ainda a emprega para cortar as defesas das pessoas, ferir suas consciências e despertá-las espiritualmente com a sua ação penetrante”.Mercê desses fatos, ratifica-se que o Espírito dá à Palavra o seu poder, tornando-a efetiva, inspirada, cortante e penetrante (2 Tm 3.16; Hb 4.12).

A espada do Espírito sonda a consciência e subjuga os impulsos do pecado. Weslley comenta que “temos de atacar Satanás e também nos defender; o escudo numa mão e a espada na outra. Quem luta contra os poderes do inferno precisa de ambos”.Portanto, ela deve ser usada tanto para resistir às ciladas do Diabo (Mt 4.1-10), como para derribar as fortalezas de Satanás (Mt 10.19-20; 2 Co 10.4).