A Conduta do Crente em Relação à Família [ EBD ] 2° Trim. 2020

Lição 12: A Conduta do Crente em Relação à Família

Lição 12: A Conduta do Crente em Relação à Família Escola Dominical | 2° Trimestre 2020 |Subsídio Apoio Ao Professor.

Texto Áureo: (Efésios 5.31) “Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne.”

Introdução

O relacionamento em família está incluso no projeto divino. Paulo assegura a existência de uma hierarquia instituída pelo próprio Deus desde a criação da humanidade (Gn 1.26-28). No contexto familiar, o apóstolo assevera que essa ordem deve ser observada no matrimônio cristão (Ef 5.23). O matrimônio bíblico, conforme o ensino de Cristo, deve ser monogâmico, heterossexual e indissolúvel (Mt 19.4-6). Todos os membros da família são iguais nesse modelo divino, porém os papéis que cada um desempenha são diferentes.

Desse modo, a hierarquia é funcional, e não de superioridade ou inferioridade. Essa premissa pode ser percebida no versículo de abertura dessa seção, onde Paulo aborda com profundidade a questão dos relacionamentos. No texto bíblico em apreço, antes de discorrer acerca dos papéis da família e das relações sociais, o apóstolo dos gentios exorta os crentes a sujeitarem-se “uns aos outros no temor de Deus” (Ef 5.21).

Nessa perspectiva, veremos nesse capítulo a conduta ideal requerida nas Escrituras Sagradas para os relacionamentos no âmbito da família cristã. A abordagem faz apontamentos em relação às particularidades da criação e às funções do homem, da mulher e dos filhos. 

I. A CONDUTA DOS MARIDOS 

1. O Papel de Líder da Família

Inicialmente, acentua-se que um grupo social sem um líder é um convite ao caos. No mesmo sentido, salienta-se que é um desastre quando uma nação está sem governo e quando um exército está sem comando. Dessa forma, o apóstolo vaticina que “aprouve a Deus determinar ao esposo a tarefa de ser a cabeça da esposa, portanto também da família”.Essa ordem de autoridade deve ser observada do seguinte modo: Deus, a cabeça de Cristo; Cristo, a cabeça do homem; e o homem, a cabeça da mulher (1 Co 11.3).

A subordinação dentro do lar é explicada na frase “o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja” (Ef 5.23). Esse versículo revela o modelo de relacionamento do casamento cristão, isto é, o marido deve liderar a sua casa do mesmo modo como Cristo lidera a Igreja — com amor altruísta — em prol do conforto, aconchego, segurança e felicidade da esposa (5.29). O Comentário Beacon ressalta que, embora homens e mulheres sejam iguais diante de Deus, existe uma hierarquia no casamento em que o marido possui certas obrigações “divinamente ordenadas e a esposa tem que aceitar com alegria”.

Sabe-se, porém, que havia códigos domésticos nas culturas antigas que positivavam prerrogativas apenas aos maridos e que obrigavam as esposas à submissão silenciosa e, muitas vezes, com obediência absoluta.Em contrapartida, a mensagem de Efésios difere das normas dos povos antigos e assevera que essa submissão deriva da consideração e do amor incondicional. Hendriksen acentua essa submissão da seguinte forma: Por certo que ele tem tal autoridade [marido] e deve exercê-la, porém jamais de maneira dominante.

A comparação com Cristo como cabeça da igreja (cf. 1.22; 4.15; Cl 1.18) revela em que sentido o esposo é a cabeça da esposa. Ele é sua cabeça no sentido de estar vitalmente interessado no bem-estar dela. É o protetor dela. Seu padrão é Cristo que, como cabeça da igreja, é seu Salvador! Destaca-se que o movimento feminista, com viés neomarxista, considera esse modelo da família patriarcal como um sistema opressor e abusivo do homem para com a mulher. Ao contrário desse falacioso discurso, nas Escrituras Sagradas, o papel do líder da família, o marido, está fundado no amor e respeito mútuos (Jo 13.34-35). 

2. O Amor como Conduta Primordial 

Sob a ótica meramente humana, os deveres familiares descritos por Paulo aparentemente não são tarefas fáceis. Se, de um lado, as mulheres acham-se prejudicadas na tarefa de submeterem-se aos seus maridos, de outro lado, as obrigações dos homens também são vistas com contrariedade. Isso porque, além de liderar esposa e filhos, cabe ainda ao marido o dever de amar a sua esposa assim como também Cristo amou a Igreja (Ef 5.25).

A dificuldade enfrentada pelos maridos é que o amor de Cristo para com a Igreja é incondicional. Trata-se de um amor altruísta, isto é, aquele que não espera ser retribuído. Esse amor é imensurável ao ponto de Cristo morrer pelo bem da Igreja. Dessa mesma maneira, o marido deve amar a sua esposa. Esse é o dever supremo do marido crente em Jesus. Nesse ponto, João Crisóstomo faz uma clara e objetiva orientação aos cristãos casados: Queres que a mulher te obedeça, conforme a Igreja a Cristo?

Tem solicitude por ela bem como Cristo pela Igreja. Mesmo se for preciso dar a vida, até mesmo ser mil vezes ferido, suportar e sofrer seja o que for, não recuses. Nada fizeste ainda à imitação de Cristo. Pois tu procedes após estar unido; Ele, porém, o fez em favor daquela que lhe tinha aversão e ódio. Ele, em sua grande solicitude, sujeitou a seus pés aquela que lhe tinha aversão, odiava, desprezava, enchia de escarros, e insultava pela lascívia, mas não conseguiu por meio de ameaças, injúria, medo ou coisa semelhante.

De igual forma procede em relação a tua mulher. Mesmo se a vires com desprezo, injúria, com lascívia, menosprezo, poderás submetêla a teus pés por meio de grande solicitude, amor e amizade […]. É possível conter um servo pelo medo, ou melhor, talvez nem mesmo ele pode escapar e ir embora. Quanto à partícipe de tua vida, contudo, mãe de teus filhos, causa de toda alegria, não deves contê-la por medo e ameaças, mas por amor e afeição. Acerca dessa realidade, Hendriksen disserta que, quando um marido ama a esposa da supradita forma, a esposa tem prazer em obedecê-lo e submeter-se a ele.

Como observado, ressalta-se que esse amor implica notadamente até na prática de algum tipo de sacrifício, como diz as Escrituras: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (5.25b). Assim, ratifica-se que o amor de Cristo para com a Igreja é altruísta e incondicional (Rm 5.8). Sublinha-se, ainda, que a Igreja foi atraída para Cristo por meio do amor e do perdão, e não por ameaças ou imposição autoritária (Jo 15.12-13). Da mesma maneira, os maridos também devem manter a união e a harmonia conjugal por meio do exercício do “amor”, e não do “autoritarismo”.

Os que falham nesse quesito estão em desobediência ao preceito bíblico, e, por estarem em falta, até mesmo as suas orações estão impedidas diante de Deus (1 Pe 3.7). Por isso, o marido cristão depende da graça divina para desempenhar bem o seu papel de líder da família. 

3. O Cuidado devido à Esposa 

As Sagradas Escrituras enfatizam que a esposa é parte do marido ao declarar: “Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo” (Ef 5.28b). Acrescenta-se, ainda, que toda pessoa mentalmente saudável cuida do próprio corpo (5.29). Isso significa que o marido deve dar atenção à sua mulher do mesmo modo que se preocupa consigo mesmo. Desse modo, acentua-se que essa afirmação paulina referente ao papel do marido “não significa que devem amar suas próprias esposas assim como amam a seus próprios corpos, mas devem amar suas próprias esposas como sendo seus próprios corpos”.

O perfeito entendimento dessa orientação altera profundamente a postura do marido em relação ao cuidado para com a sua esposa. Nesse sentido, destaca-se a assertiva do Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento: Assim como a Igreja é o corpo de Cristo sobre a terra, também a esposa é a extensão de seu esposo. Em conjunto, esposo e esposa são partes complementares de uma única personalidade. Portanto, quando um esposo cuida amorosamente de sua esposa, ama-se a si mesmo.

Nesse aspecto, amar a esposa como sendo o mesmo corpo implica em proteger a esposa e prover uma vida digna a ela. Essas ações de cuidado não se limitam às provisões materiais como suprir-lhe as necessidades de vestuário, calçados, alimentação, moradia, saúde e segurança, etc., mas também estão incluídos o afeto, a atenção, o carinho, a consideração, o respeito e a honra, dentre outros. Tais demonstrações devem ser sinceras tanto em público como em ambiente particular e de modo permanente enquanto ambos viverem (Mt 19.6; Cl 3.19). 

II. A CONDUTA DAS ESPOSAS 

1. O Conceito de Submissão Cristã

Em tempos pós-modernos, o termo “submissão” tornou-se pejorativo. Um dos aspectos que contribuem para a depreciação da submissão é a efusão equivocada dos direitos fundamentais, esculpidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Federal do Brasil. A má interpretação ou o mau uso desses direitos induz muitas pessoas ao entendimento de que são detentoras de prerrogativas e que não devem submeter-se a ninguém.

No aspecto legal, essa postura é contraditória, haja vista que não há ninguém acima da lei no Estado Democrático de Direito, assim como não há ninguém que possui o direito de ab-rogar qualquer norma. E, no aspecto teológico, ressalta-se que aquele que se coloca acima dos outros está na contramão das Escrituras. As orientações bíblicas balizam que os cristãos devem submeter-se a Deus (Tg 4.7; Rm 8.7), aos pastores (Hb 13.17), às autoridades constituídas (Rm 13.1; 1 Pe 2.13); as mulheres a seus maridos (Ef 5.22-23); os filhos aos pais (Ef 6.1) e os servos a seus senhores (Ef 6.5).

Hendriksen, ao comentar a respeito do conceito da submissão cristã, especificadamente a submissão da esposa para com o seu marido, ressalta alguns aspectos de grande importância, tais como voluntariedade e adoração: Tal obediência deve ser uma submissão voluntária de sua parte, e isso acontece a seu próprio esposo, e não a qualquer homem. O que tomará esta obediência mais fácil, por outro lado, é que se lhe pede que faça como ao Senhor, ou seja, como parte de sua obediência a Ele, o mesmo que morreu por ela.

A submissão cristã, portanto, não é uma sujeição irracional ao domínio arbitrário ou violento de alguém. No caso das esposas, refere-se a uma voluntária e grata aceitação do amor e cuidado do marido. Por isso, nada há de depreciativo nessa conduta, pois retrata o alto nível de relacionamento entre Cristo e a sua amada Igreja. Matthew Henry afirma com propriedade que “onde houver condescendência e submissão, os deveres de todos os que estão na casa serão mais bem efetuados”.

2. A condição da mulher cristã

A História e as ciências sociais retratam que, nas culturas antigas, as mulheres eram vistas como um ser de segunda categoria e até mesmo como propriedade do seu marido, pai ou patrão (Gn 31.14- 15). Na sociedade grega, elas eram tratadas como inferiores, e as esposas eram escravizadas pelos seus maridos. Na sociedade romana, elas desfrutavam de maior dignidade que na Grécia, mas eram oficialmente excluídas da vida política e da vida religiosa tanto pública como privada.

Outrossim, registra-se que a ideia de que as mulheres sequer possuíam alma era divulgada em algumas culturas. Monteiro descreve a condição social das mulheres no judaísmo nos seguintes termos: Na pirâmide social, do ponto de vista da valorização pessoal, a mulher estava junto com os escravos e as crianças […]. Na sociedade judaica, a mulher não teria acesso à educação, não podendo ser instruída nos segredos da Torá. É muito mencionada a oração que o judeu ortodoxo recitava diariamente, agradecendo ao Senhor por não ter nascido nem gentio, nem escravo, nem mulher.

Nesse aspecto, frisa-se que o conceito em relação às mulheres era preconceituoso e discriminatório entre as culturas existentes no contexto histórico de Efésios (cultura judaica e greco-romana). Dessa forma, ressalta-se que, nos aspectos abordados, a mulher era culturalmente tratada como objeto e como um ser inferior ao homem. Apesar de toda essa influência negativa, o cristianismo emerge com uma mensagem de igualdade e liberdade.

Nessa perspectiva, o evangelho de Cristo quebrou os paradigmas existentes e alçou as mulheres à posição de dignidade igual aos homens (Gl 3.28), notadamente com a ênfase de que não há acepção de pessoas em Cristo (Rm 2.11). O Senhor Jesus, por exemplo, ao conversar com a mulher samaritana, derribou parâmetros da época e opôs-se ao preconceito e à discriminação (Jo 4.9-10). Biblicamente, portanto, a mulher cristã desfruta de plena liberdade em Cristo e não está sujeita a nenhum sistema de escravidão (Gl 5.13).

3. A Consideração devida ao Marido

Como observado, o amor do marido para com a esposa deve ser altruísta (Ef 5.25). Esse amor serve ao propósito divino de capacitar as esposas a serem submissas aos maridos, como ao Senhor (5.22). O homem que ama a sua mulher de modo altruísta coopera para ser considerado como líder pela sua esposa (5.33). As esposas devem sujeitar-se aos maridos em obediência à autoridade divina, que as ordenou a serem submissas “como ao Senhor”, ou seja, da mesma forma como são devotas ao Senhor, assim devem submeter-se aos seus maridos.

Essa submissão consiste em consideração, estima e respeito da esposa para com o marido. Denota o sentimento que conduz a esposa a agir de modo a agradar e a corresponder ao amor do seu esposo. Essa postura é demonstrada quando há o apoio e a ajuda da parte da esposa na tarefa do marido de liderar a família. Significa que a esposa participa das decisões em família, porém não procede como opositora e nem desautoriza a autoridade do seu marido. 

III. O COMPORTAMENTO DOS FILHOS 

1. A Conduta requerida dos Filhos 

No primeiro versículo do capítulo 6 dessa Epístola aos Efésios, o apóstolo inicia a sentença exortando a todos os filhos que obedeçam a seus pais no Senhor (6.1a). A elucidação do motivo para que os filhos cumpram a incumbência de obedecer aos pais está descrita na segunda parte do versículo: “[…] porque isto é justo” ou “[…] pois isso é certo” (6.1b, NTLH).

Esequias Soares afirma que essa prescrição está intrinsecamente relacionada à cognação entre pai e filho e entre Deus e o seu povo, pois “não existe na vida alguém mais importante para o filho do que o pai e a mãe; eles são seus heróis. Esse relacionamento é análogo ao de Javé com o seu povo Israel (Dt 1.31)”.Isso sinaliza que a conduta dos filhos em obedecer aos pais é algo tão correto quanto é a conduta dos salvos em obedecer a Deus.

Quanto à motivação exigida nessa obediência, Hendriksen destaca que “toda obediência egoísta, ou relutante, ou sob terror deve ser terminantemente descartada”.

Nesse aspecto, a prescrição divina não requer obediência aparente como mera observância da Lei. O apóstolo Paulo enfatiza que os filhos devem ser obedientes “no Senhor”, e isso significa “obedecer por amor ao Senhor”.Foulkes considera que mesmo uma criança na sua simplicidade pode saber o que significa amar no Senhor e obedecer por causa do Senhor. O texto correlato em Colossenses corrobora com esse entendimento quando diz: “Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor” (Cl 3.20).

Nesse sentido, no versículo seguinte (Ef 6.2), Paulo assevera que somente a prática da obediência formal (6.1) não é suficiente na completude do dever cristão, mas que os filhos também devem cumprir o quinto mandamento do decálogo, qual seja, o de “honrar pai e mãe” (Êx 20.12; Ef 6.2). O termo grego utilizado pelo apóstolo para honrar é timao, que significa “alto respeito ou estima mostrada a uma outra pessoa”.Dessa forma, os filhos que obedecem aos seus pais por amor ao Senhor irão naturalmente demonstrar reverência e apreço pelos seus genitores.

Assim, frisa-se que a ordem dos filhos em obedecer e honrar aos pais deriva de uma determinação divinamente estabelecida. Deus deseja que os filhos estejam sujeitos, que confiem na sabedoria, na experiência e na capacidade dos seus pais em educá-los, tal qual fez Jesus em relação aos seus pais terrenos (Lc 2.51). Obedecer, portanto, significa cumprir por amor aquilo que é ordenado. Honrar envolve respeito, consideração, ajuda e até sustento caso seja necessário.

A obediência é devida enquanto os filhos viverem sob a tutela dos pais, e a honra é um dever para a vida toda. Paulo, por conseguinte, afirma que a obediência e a honra aos pais culminam em dupla promessa aos filhos: “[…] para que tudo corra bem com você, e você tenha uma longa vida sobre a terra” (6.3 NAA). Em suma, a promessa aos filhos engloba vida boa (prosperidade) e vida longa (longevidade). Hendriksen destaca a importância do cumprimento desse mandamento no seguinte teor:

Em que sentido é verdade que este mandamento é de tão extraordinária importância, sendo de fato tão importante, que em Levítico 19.1 a lista de mandamentos postos sob o título geral, “Serão santos, porque eu, Yahweh seu Deus, sou santo” inicia precisamente com este? A resposta se acha na promessa apensa a ele, ou seja: “para que se vá bem com você e que tenha longa vida sobre a terra”.290 Destaca-se que essas promessas não dizem respeito à vida eterna, embora seja verdade que nenhum desobediente herdará o Reino dos céus (Mt 7.21; Jo 5.24; 1 Co 6.9). Esse, porém, não é o enfoque do texto em discussão.

Aqui, o apóstolo ressalta que a observância desses mandamentos concede aos filhos a bênção de desfrutar o melhor dessa terra. Salienta-se, portanto, que a ênfase recai sobre os benefícios materiais. Significa que, ao obedecerem e honrarem os seus pais, os filhos submetem-se à vontade de Deus, e o Senhor, segundo o beneplácito da sua vontade, recompensa aos filhos com benesses especiais. 

2. A Responsabilidade dos Pais

Na sequência desse capítulo, após orientar a conduta dos filhos, o apóstolo delineia os deveres dos genitores. Inicialmente, Paulo arrazoa que os pais não devem provocar a ira dos filhos (Ef 6.4a). Essa orientação paulina está em marcante contraste com a norma adotada pela sociedade romana da sua época. Stott, ao citar William Barclay (1907–1978), revela que, na chefia da família romana, o chamado pater famílias era exercido com autoritarismo e vislumbres de crueldade e brutalidade: O pai romano tinha autoridade total sobre a sua família.

Poderia vendê-la como escrava, ou fazer os membros trabalhar em seus campos, poderia tomar a lei nas suas próprias mãos, pois a lei assim lhe facultava, e podia castigar como queria, até mesmo aplicando a pena de morte ao seu filho, se quisesse.291 Em oposição a essa cultura opressora e desumana, os pais cristãos são exortados a agir de modo completamente diferente da prática usual dos seus dias. O apóstolo orienta-os a não provocarem a ira dos seus filhos (6.4a). Esse verbo exprime a ideia de que o ensino e o tratamento dispensado pelos pais não devem “excitar as paixões ruins dos filhos por severidade, injustiça, parcialidade ou exercício irracional de autoridade”.

Aos Colossenses, o apóstolo faz orientação semelhante ao escrever: “Pais, não irritem os seus filhos, para que eles não fiquem desanimados” (Cl 3.21-NAA). Na instrução cristã, a disciplina dos genitores deve ter o condão de ajudar os filhos a fazerem o correto, e não a de irritar ou de provocar sentimentos de raiva ou rebeldia. A disciplina que não instrui não cumpre o seu papel regularizador e, dessa forma, não torna os filhos em pessoas melhores e responsáveis, mas, sim, em pessoas rancorosas que contestam ordens e não as aceitam.

O propósito de Paulo é que o lar cristão seja harmonioso e pacífico, uma vez que a desobediência dos filhos pode acabar com a paz e a alegria de qualquer lar. 294 Nesse parâmetro, sublinha-se que a desarmonia no lar provocada pelo conflito entre pais e filhos pode ser explicada pelos seguintes erros na educação: (1) excesso de proteção; (2) favoritismo (Gn 25.28); (3) desestímulo; (4) não reconhecer o fato de que o filho está crescendo; (5) negligência e (6) uso de palavras ásperas.

E, a fim de não incorrerem nessas faltas, os pais cristãos são orientados a não abusar da autoridade recebida. Eles devem educar com brandura e amor, sem rigor excessivo ou imposições injustas para não incitar a ira dos seus filhos e, assim, manter a unidade no ambiente familiar (Ef 6.4a). Na segunda parte do versículo em comento, Paulo enfatiza que, em lugar de provocar os seus filhos à ira, os pais devem criá-los na “disciplina e admoestação do Senhor” (6.4b, ARA). Depreende-se do supradito texto a presença de dois métodos essenciais na educação de filhos cristãos, a saber: a disciplina e a admoestação.

Nesses dois substantivos, encontra-se o resumo da maior responsabilidade dos pais, isto é, criar os filhos na disciplina da correção apropriada e compassiva e no conhecimento do dever que Deus requer deles.O vocábulo “disciplina” é a tradução do termo grego paideía, que significa orientação ou treinamento, que concorre para o desenvolvimento do caráter e pronta obediência das normas. Stott assevera que aqui a ênfase da disciplina recai na correção. Trata-se da mesma palavra usada em Hebreus com respeito aos pais terrestres e também ao nosso Pai celestial, que “nos disciplina para aproveitamento” (Hb 12.5-11).

Não se trata de espancamento, mas de instrução equilibrada, controlada por direitos e deveres com vistas ao aprendizado. Nesse mesmo sentido, a palavra “admoestação”, do grego nouthesia, significa “uma instrução ou advertência que faculta a distinção entre o mal e o bem”.

Não se refere à severidade excessiva e nem à permissividade, mas, sim, ao equilíbrio necessário e indispensável na educação dos filhos. Mercê dessas exortações bíblicas, cabe aos pais a responsabilidade de estabelecer os parâmetros de conduta e reagir contra a desobediência dos seus filhos. O complemento paulino “disciplina e admoestação do Senhor” (6.4, ARA) significa que os critérios dessa educação é a Palavra de Deus (ver Pv 22.6).