O Mistério da Unidade Revelado [ EBD ] 2° Trim. 2020

Lição 09: O Mistério da Unidade Revelado

Lição 9: O Mistério da Unidade Revelado Escola Dominical  2° Trimestre 2020 – Subsídio Apoio Ao Professor.

Texto Áureo (Efésios 3.5) : “O qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas.”

Introdução

Paulo e os demais apóstolos, bem como os profetas do Novo Testamento, receberam a revelação do mistério oculto por meio de Cristo (Ef 3.1-4). Nesse capítulo, estudaremos o conceito para a expressão “mistério” em Efésios 3.3,4, como esse mistério esteve oculto nas eras passadas, como esse mistério foi revelado na Nova Aliança (3.5,10) e como ele fora pré-estabelecido por Deus na eternidade (3.11). O capítulo 3 dessa carta inicia com a sentença “Por esta causa, eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios” (3.1).

A expressão “por esta causa” ou “por causa disso” apontava para as razões da sua condição de prisioneiro na cidade de Roma. A mensagem pregada pelo apóstolo, que incluía os gentios no plano da salvação, causara grande incômodo para as autoridades judaicas. Esse era o verdadeiro motivo pelo qual os judeus levaram Paulo a julgamento sob a acusação de traição e fomento de rebelião entre os judeus. A partir desse esclarecimento, Paulo pretende que os gentios não fiquem constrangidos com o seu aprisionamento, mas que louvem a Deus pela perfeição dos inescrutáveis caminhos divinos.

Em seguida, o apóstolo passa a relatar a dispensação que lhe fora confiada em favor dos gentios (Ef 3.2); o mistério de Cristo que lhe fora dado conhecer e a sua consequente compreensão da mensagem que estivera oculta (3.3-5); que os gentios são coerdeiros e coparticipantes das promessas (3.6); que esse sempre foi o eterno propósito de Deus (3.11). E, por conseguinte, ele pede aos gentios que não desfaleçam por causa da sua prisão, pois a glória deles estava nisso, pois, se Paulo não tivesse anunciado o “mistério revelado”, ele não estaria preso, mas também os efésios não poderiam ter ouvido o evangelho e convertido suas vidas a Cristo (3.13).

I. O MISTÉRIO OCULTO NO ANTIGO TESTAMENTO

 1. O Conceito Bíblico de Mistério 

A palavra grega mysterion significa “segredo” ou “doutrina secreta”; indica alguma verdade divina que esteve oculta e passou a ser conhecida. Do total de 27 ocorrências da expressão no Novo Testamento, 21 aparecem nas cartas paulinas. Em Efésios, o termo é utilizado seis vezes (1.9; 3.3,4,9; 5.32; 6.19). Quanto à origem da palavra “mistério”, alguns intérpretes bíblicos argumentam que a sua fonte é pagã, enquanto outros consideram que a fonte é judaica. Porém, independentemente dessa discussão, o uso do termo no Novo Testamento difere da aplicação dada no paganismo.

Quanto a essa questão, o Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento acrescenta que, na literatura judaica e nos escritos de Qumram, a palavra “mistério” era empregada para referir-se a algo que seria revelado no final dos tempos. Por outro lado, o uso paulino da expressão no Novo Testamento segue na contramão desse entendimento. O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento assegura que “Paulo enfatiza que a descoberta do mistério já havia ocorrido na revelação de Cristo, portanto não precisamos esperar pelos acontecimentos que irão concluir nossa era para conhecer a estratégia da vontade de Deus”.

O Dicionário de Paulo e suas cartas aponta nessa mesma direção ao afirmar que o emprego de “mistério” nas cartas paulinas “não indica algum acontecimento futuro escondido no plano de Deus, mas, sim, à sua ação decisiva em Cristo, aqui e agora”.Não se refere, portanto, a algo misterioso que somente alguns poucos iniciados possam compreender, como ensinavam alguns adeptos do falso misticismo (Cl 2.18). No cristianismo, significa uma verdade que esteve encoberta e que agora foi desvendada em benefício de todos (ver 1 Tm 2.4).

2. O Desconhecimento do Mistério 

Para compreender em que sentido o mistério esteve oculto de outras gerações, é preciso pôr em foco o advérbio “como”, que aparece no texto com valor circunstancial: “o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora” (Ef 3.5). A palavra “como” indica que, no Antigo Testamento, não foi dado a conhecer tão claramente como, agora, tem sido revelado pelo Espírito. Não quer dizer que ninguém tomara conhecimento acerca da bênção da qual os gentios também participariam antes da Nova Aliança.

A aplicação paulina desse termo deve ser claramente entendida para evitar equívocos na interpretação do plano divino estabelecido desde a eternidade. Foulkes sinaliza que a acepção da expressão “mistério oculto” não necessariamente significa negar a existência de vislumbres do propósito de Deus quanto a este assunto no Antigo Testamento, mas reconhecer que essa verdade não era “inteiramente compreendida, que judeus e gentios deveriam realmente se tornar um só povo […] e podemos entender o como, com o sentido de ‘em tal medida como’ ou ‘com tal clareza’ como agora”.

Na epístola aos Colossenses 1.26, encontramos um texto correlato a essa declaração e que tem íntima relação com a seção bíblica em apreço: “O mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos seus santos”. Aqui, o sentido da expressão “o mistério que esteve oculto” tem a mesma conotação empregada pelo apóstolo aos Efésios. Matthew Henry, no seu Comentário Bíblico Novo Testamento, corrobora com essa linha de interpretação ao destacar que os integrantes da dispensação do Antigo Testamento estavam cobertos com o véu do legalismo judaico.

Nessa perspectiva, reitera-se que o “mistério oculto” não era de total desconhecimento dos escritores do Antigo Testamento. Na verdade, eles apenas não puderam compreender os desígnios divinos, e isso porque ainda não era o tempo de ser claramente desvendado, isto é, Deus projetara a revelação do “mistério” somente para depois do primeiro advento de Cristo. Desse modo, não é correto afirmar que os patriarcas e os profetas estavam alienados acerca das promessas que os gentios também alcançariam. Essa verdade veremos no próximo tópico.

3. O Mistério e os Profetas da Antiga Aliança

Como já afirmado no tópico anterior, os escritores do Antigo Testamento não apenas conheciam, como também fizeram menção de bênçãos prometidas aos gentios. O patriarca Abraão recebeu a revelação de que a sua descendência seria bênção para todas as famílias da terra. Os profetas Isaías e Malaquias, por exemplo, registraram a inclusão dos gentios no projeto divino (Gn 12.3; 22.18; Is 11.10; 49.6; 54.3; 60.3; Ml 1.11). Nessa mesma direção, Moody avalia que “o mistério não consistia em que os gentios poderiam ser salvos há muita coisa no AT relacionada com a salvação dos gentios, particularmente em Isaías mas que seriam ligados aos judeus em um só corpo”.

Isso indica que os profetas da Antiga Aliança conheciam em parte, mas não tinham a revelação completa. Desse modo, ratifica-se que os escritores do Antigo Testamento souberam das promessas, mas não souberam como isso aconteceria. O que nenhum deles compreendera é que Deus faria algo totalmente novo, que as barreiras raciais e religiosas seriam rompidas por meio de Cristo e que judeus e gentios seriam um só povo integrante de um mesmo corpo, a Igreja (Ef 3.6,10).

II. O MISTÉRIO REVELADO NO NOVO TESTAMENTO

1. Revelado aos Apóstolos e Profetas 

Paulo afirma que o mistério oculto foi revelado pelo Espírito de Deus não somente a ele, como também aos demais apóstolos e profetas (3.5). A narrativa da visita de Pedro, por exemplo, para pregar o evangelho na casa do gentio Cornélio é uma prova cabal dessa declaração paulina (ver At 11.4-17). Igualmente, o registro no livro de Atos sinaliza a importância da atividade e da revelação dos profetas na igreja incipiente (ver At 11.27; 13.1). Ao ressaltar que o “mistério foi manifestado pela revelação” (3.3) e destacar que foi “revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (3.5), Paulo ensina que o mistério divino não poderia ser desvendado por meio do raciocínio intelectual.

Desse modo, ratificase que o mistério foi dado a conhecer por meio da “revelação divina”, e não por sabedoria humana. Escrevendo aos Coríntios, ele fez questão de enfatizar que a sua pregação não consistia em “palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder” (1 Co 2.4). Moody, ao comentar acerca dessa característica de Paulo, salienta que ele “sempre insistia na sua recepção direta do Evangelho do próprio Senhor Jesus, sem qualquer intermediário humano”.

2. O Mistério Oculto Revelado

 Em termos gerais, o “mistério revelado” é a Igreja. A revelação começa pela declaração que o Pai idealizou tudo desde sempre (ver 1.14; 3.11); prossegue com a execução da obra de Cristo (1.7; 2.15); a criação de uma nova humanidade (2.1-10); a união de judeus e gentios como família de Deus e corpo de Cristo (2.11-22; 3.6); e a comunicação dessas verdades aos santos apóstolos e profetas (3.3,5). Na sequência dessa abordagem, Paulo usa a expressão “mistério de Cristo” (3.4) em uma clara referência ao filho de Deus como o centro e a causa originadora desse mistério.

De fato, a pessoa de Cristo “é o ponto de partida para um verdadeiro entendimento da ideia de mistério nessa carta, como em outras passagens de Paulo. Não há muitos mistérios com aplicações limitadas, mas um único mistério supremo com muitas aplicações”.

Cristo é tanto a fonte como a substância desse mistério, e é a partir dEle que acontecem todos os desdobramentos do propósito divino. No primeiro capítulo da carta, Paulo já tinha dito que Deus agora fizera conhecer plenamente a sua vontade ao desvendar o mistério oculto (1.9). E, no capítulo 3, o apóstolo descreve o conteúdo desse mistério: “A saber, que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho” (3.6). Ao interpretar esse versículo, o Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal assim discorre: No caso de alguém não ter entendido, Paulo explicou exatamente o que aquele mistério acarretava.

Enquanto os antigos profetas haviam escrito sobre inclusão de gentios judeus, a interpretação dos seus escritos foi a de que os gentios pudessem se tornar prosélitos. A extensão desta inclusão e a mudança radical — os judeus e gentios sendo coerdeiros — não foi sequer considerada. Ninguém sabia disso até que Deus revelou a Paulo e aos outros apóstolos e profetas do Novo Testamento.

Esta inclusão de gentios e judeus pôde acontecer porque ambos creram no Evangelho. Além disso, ambos são partes de um mesmo corpo e assim estão unidos em uma única unidade sobre Cristo, que é a cabeça. Finalmente, ambos são participantes da promessa em Cristo. Eles serão participantes e companheiros no recebimento das futuras bênçãos prometidas no Reino de Deus.

A revelação do mistério oculto esclarece que os gentios não serão salvos por meio de uma possível conversão ao judaísmo ou da observância das leis cerimoniais judaicas (tais como a circuncisão, guarda do sábado e outras). No versículo em análise, Paulo faz uso de palavras compostas com o prefixo grego syn, com o significado de “em conjunto com”. Assim, os termos “coerdeiros”, “mesmo corpo” e “participantes da promessa em Cristo” explicam que os gentios são “herdeiros juntamente com” os judeus das mesmas promessas prometidas a Abraão e à sua descendência.

3. A Magnitude do Mistério 

Como já observado nos tópicos anteriores, outrora ninguém tinha ventilado a possibilidade da formação de um só povo sem distinção de pessoas, raça ou classe social em Cristo e por Cristo, todos sendo um e participando da mesma promessa (Gl 3.28; Ef 3.6; Cl 3.11). Até mesmo alguns líderes da Igreja Primitiva demoraram a entender esse mistério em que todos são aceitos em Cristo por meio da mensagem da cruz. O apóstolo Pedro, por exemplo, precisou justificar-se perante a Igreja em Jerusalém por ter compartilhado o evangelho com o incircunciso Cornélio (At 11.4-17).

Até mesmo o próprio Pedro teve dificuldades em compreender que o evangelho também estava disponível para a salvação dos gentios. A compreensão de Pedro somente ocorreu após uma visão onde Deus mostrou-lhe que a nenhum homem considerasse comum ou imundo (At 10.1-48). Não obstante, a dimensão e a abrangência do mistério revelado já tinham sido anunciadas pelo apóstolo ao asseverar que a vontade divina era “de tornar a congregar em Cristo todas as coisas” (Ef 1.10a). A harmonia que fora destruída pelo pecado desde o Éden agora entrou em processo de restauração por meio da cruz de Cristo.

Essa restauração é completa e compreende tanto as coisas “que estão nos céus como as que estão na terra” (1.10c). Na plenitude dos tempos, Cristo será reconhecido como a Cabeça de tudo (ver 1.22). No tempo presente, Cristo já é a Cabeça da Igreja e o autor da unidade entre judeus e gentios, mas, no tempo determinado, acontecerá a submissão do mundo a Ele como a Cabeça, e aquela unidade pela qual ansiamos virá com o domínio de Jesus Cristo.

 Ao descrever a grandiosidade desse mistério ora revelado, Matthew Henry destaca no seu comentário que: Precisamos reconhecer que a conversão do mundo gentílico para a fé em Cristo foi um mistério adorável, e devemos agradecer a Deus por isso. Quem teria imaginado que as pessoas que estiveram tanto tempo na escuridão, e tão distantes, fossem iluminadas com a luz maravilhosa e se aproximassem de Cristo? […]. Nada é difícil demais para a graça divina: ninguém é tão indigno que Deus não possa derramar a sua imensa graça sobre ele. É claro que isso não significa “universalismo”, que especula que todos serão salvos no fim, mas, sim, que tudo será conforme Deus planejara (ver 3.10,11).

Por outro lado, Paulo declara que o anúncio dessas dádivas recai sobre a responsabilidade da Igreja para que “a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (3.10). Isso indica que a própria Igreja é a principal agência divina de divulgação desse “mistério”, cujo propósito é unir todos os homens, por meio de Cristo, em um só povo, além de servir de testemunho até mesmo para os poderes espirituais.

III. O MISTÉRIO PREESTABELECIDO POR DEUS 

1. As Riquezas Incompreensíveis de Cristo 

O mistério agora revelado e anunciado é considerado pelo apóstolo como “riquezas incompreensíveis de Cristo” (3.8). A expressão refere-se às maravilhas, misericórdia, amor, graça e providência divina, que estão além do entendimento humano (ver 1.7). Paulo enfatiza que as riquezas do evangelho e da salvação de judeus e gentios são riquezas que inexplicavelmente nos são concedidas por meio de Cristo. Nossa atenção é chamada para o fato de que essas riquezas não são apenas o evangelho, nem somente a doutrina, mas o próprio Cristo (ver Mt 13.44).216 Matthew Henry considera que “essas são riquezas insondáveis, que a sagacidade humana jamais poderia descobrir e as pessoas não conseguiriam obter de outra forma se não fosse por revelação”.

São riquezas que não se podem rastrear ou investigar, pois são recursos ilimitados da graça de Deus em Cristo Jesus. Para o apóstolo dos gentios, compartilhar com os povos essas boas novas era algo imensurável (3.18-19). A mensagem da qual fora incumbido consistia em ministrar a todos a perfeição e a preciosidade do mistério que estivera oculto (3.7-9). Ao referir-se à honra da comissão divinamente recebida, Paulo ressalta que foi “feito ministro, pelo dom da graça de Deus” (3.7). Essa declaração reforça que o seu apostolado não era humano (3.1-3). Ele foi feito ministro e não se fez ministro.

Ele não usurpou esse privilégio; foi dom da graça de Deus. Humildemente, ele considerava-se “o mínimo de todos os santos” (3.8). Não se tratava de falsa modéstia, mas de um sentimento que o acompanhava após a conversão. Aos Coríntios, ele explicita que foi perseguidor da Igreja na sua vida pregressa e, por isso, não se sentia digno de ser chamado apóstolo (1 Co 15.9). Contudo, ao mesmo tempo, ele alegrava-se em proclamar que essas “riquezas” foram projetadas desde a eternidade, sendo livremente concedidas por meio de Cristo (Ef 1.4; 2.16). Essa mensagem abrange o beneplácito da vontade divina que articulou o plano (1.11), o conteúdo do plano com todas as suas bênçãos (2.1-6) e a pessoa de Cristo, que executou o plano preestabelecido por Deus (1.19-22).

2. O Eterno Propósito em Cristo

Paulo novamente reforça que lhe foi confiado a pregação do mistério, “que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou” (3.9). Como já observado, “mistério oculto” significa que, desde o princípio dos tempos, o Criador manteve o seu propósito encoberto para ser plenamente revelado em tempo oportuno (1 Pe 1.20). Porém, agora no presente, a ênfase paulina aponta que já havia chegado o tempo de o mistério ser desvendado. As expressões “esteve oculto em Deus” (Ef 3.9) e “para que, agora, […] seja conhecida” (3.10) indicam que Deus sempre esteve no controle da sua criação “segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor” (3.11).

Paulo está falando do plano que abarca as eras. Deus está no controle e governa as eras em toda a sua continuidade e conteúdo. O eterno propósito divino já tinha sido mencionado por Paulo em Efésios 1.11 nos seguintes termos: “[…] havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”. Essa declaração indica que os crentes (judeus e gentios) são herdeiros da mesma promessa em Cristo conforme o propósito divinamente estabelecido.Isso quer dizer que tanto o “plano da salvação”, que abrange o “mistério da igreja”, quanto a “revelação desse mistério” sempre estiveram de acordo com o desígnio divino para ser executado por intermédio de Cristo.

O eterno propósito relaciona-se, entre outros aspectos, com a providência divina para com a humanidade. Em outras palavras, Deus não deixou a humanidade exposta à própria sorte, mas providenciou um plano de redenção para os pecadores. Esse plano de salvação é direcionado a todo aquele que crê em Jesus Cristo (Jo 3.16). Deus é soberano e estabeleceu as condições para a salvação (Ef 2.8,9), e Ele planeja nossos dias antes mesmo que nasçamos (ver Sl 139.16).

Ele, porém, faz tudo isso de tal maneira que, de algum modo, nos garante o livre-arbítrio, a capacidade de fazer escolhas, pelas quais somos responsáveis diante dEle (ver Is 66.3-4). Desse modo, o eterno propósito disponibiliza a salvação para todos, uma vez que, concordes com nossa Declaração de Fé, o Senhor Deus não deseja a perdição de ninguém, mas “quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4). Essa salvação, entretanto, aplica-se somente àquelas que creem: “Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem” (Rm 3.22).

Certamente que o propósito divino de salvar o pecador inclui a regeneração, o livramento do poder da maldição do pecado e a restituição do homem à plena comunhão com Deus. No entanto, apesar de isso tudo estar presente na declaração paulina, é possível perceber a preocupação do apóstolo com a unidade (ver 3.6) e a comunhão da Igreja (ver 3.9) para que os crentes redimidos em Cristo cumpram o propósito para o qual foram chamados. Em relação a essa questão, em textos correlatos, Paulo enfatiza a necessidade da comunhão e da unidade do corpo de Cristo.

Aos Romanos, para citar ao menos uma referência, o apóstolo lembra que, mesmo sendo diferentes uns dos outros, fazemos parte de um mesmo corpo e, portanto, devemos ter o mesmo sentimento de Cristo Jesus (Rm 12.4-21; 15.5). Na carta aos Efésios, ele exorta a “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.3) e, em favor dessa causa, isto é, pela perfeita compreensão da vontade de Deus por parte dos seus leitores, Paulo propõe-se a interceder “de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (3.14). 

3. O Plano Divinamente Preestabelecido 

O plano divino de redenção da humanidade não surgiu quando Adão e Eva desobedeceram às ordenanças do Criador no Jardim do Éden (Gn 3.6-19). Deus não foi e nem nunca será apanhado de surpresa; Ele sempre esteve no controle e já tinha um plano de salvação preestabelecido (Ef 1.3-5). Deus é soberano e controla todas as eras, tempos e circunstâncias. Essa verdade ensina-nos que existe um propósito eterno em andamento por trás de todo evento da História. Nessa perspectiva, cremos que o plano divino não foi o resultado de alguma pressão externa, mas foi ocasionado pelo “propósito gracioso” de Deus pelo muito que nos amou.

Tudo ocorreu conforme o beneplácito da sua soberana vontade (1.5,9). Assim, no cumprimento desse eterno propósito, no tempo previamente determinado, o mistério da Igreja foi executado em Cristo, “no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele” (3.12). Significa que o acesso ao Deus-Pai estava fechado antes da vinda de Cristo; porém, agora pelo mistério da unidade revelado, temos livre acesso à presença do Pai (Hb 10.19-20), desfrutamos da “comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7).

Desse modo, acerca do mistério da Igreja que esteve oculto nas gerações passadas, no tempo previamente estipulado, Deus revelou o seu eterno propósito aos apóstolos e aos profetas do Novo Testamento. Judeus e gentios estavam inseridos nesse mistério idealizado por Deus. Tal mistério agora revelado deve ser anunciado pela própria Igreja conforme os desígnios divinamente preestabelecidos desde a eternidade. Aleluia!