Edificados sobre Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas [ EBD ] 2° Trim. 2020

Lição 08 - Edificados sobre o Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas

Lição 8: Edificados sobre Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas Escola Dominical | 2° Trimestre 2020 Subsídio Apoio Ao Professor. 

(Efésios 2.20) “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”.

Introdução

Cristo formou a Igreja por meio da reconciliação efetivada na cruz (Ef 2.13-19). O apóstolo compara-a a um edifício em construção (2.21). A pedra angular dessa edificação é Cristo, e o fundamento foi estabelecido pelos apóstolos e os profetas (2.20). O propósito é tornar-se templo santo do Senhor e morada do Altíssimo (2.22). Tanto os judeus quanto os gentios fazem parte da Igreja, também identificada como “família de Deus” (2.19b). Como já visto no capítulo anterior, pela obra de Cristo na cruz, ocorreu uma mudança na condição dos gentios que agora “já não [são mais] estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e [membros] da família de Deus” (2.19). 

Por causa de Cristo, homens e mulheres de toda a raça, língua, tribo, nação e posição social estão juntos na mesma família — a família de Deus. Essa família é semelhante a um edifício construído sobre um sólido fundamento. Aqui no texto aos Efésios, Paulo enumera os apóstolos e profetas como sendo o fundamento (2.20). Porém, aos Coríntios, lê-se que “ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3.11). 

Essa aparente contradição é explicada pela apresentação diferente que Paulo faz da mesma metáfora: “aqui, o apóstolo se refere a si mesmo e aos outros como pedras do edifício, ao passo que em Coríntios (Ef 3.10) a referência é a construtores”.Além da explicação já descrita que se trata de apresentação diferente de uma mesma metáfora, Bullinger, na sua obra Comentário sobre Efésios, interpreta que “Paulo não quer dizer que os apóstolos e profetas são o fundamento da Igreja, mas Jesus Cristo, de quem os apóstolos e profetas deram testemunho, porque Ele é a pedra que o Senhor colocou em Sião”.

I. UM EDIFÍCIO ESPIRITUAL 

1. O Santuário Judeu 

O Templo em Jerusalém era o ponto alto da identificação exclusivista de Israel como povo de Deus (1 Rs 8.16-20). Esse Templo foi idealizado pelo rei Davi e construído pelo seu filho e sucessor, o rei Salomão (1 Cr 17.1-12). Salomão empenhou-se na construção do Templo do quarto ao décimo primeiro ano do seu reinado (1 Rs 6.37-38). A proibição de acesso ao edifício por parte dos estrangeiros era razão de inimizade entre judeus e gentios (Ef 2.14). Ao reconciliar ambos os povos, Cristo aboliu as leis impeditivas, desfez a inimizade e formou uma nova humanidade — a Igreja (2.18-19). Assim, o Templo judaico perdeu a sua relevância, e um novo conceito de santuário foi apresentado.

Ao discorrer sobre o tema, Stott apresenta o seguinte entendimento: O templo em Jerusalém — primeiro o de Salomão, depois o de Zorobabel, depois o de Herodes — tinha sido, por quase 1000 anos, ponto central da identidade de Israel como povo de Deus. Agora havia novo povo. Haveria então um novo templo, conforme alusão indireta de Jesus? O novo povo não era uma nova nação, mas uma nova humanidade, inter-racial e de alcance mundial. Um centro geograficamente localizado, portanto, não seria apropriado para ele.

O que, pois, poderia ser seu templo, seu elemento de união? […]. O novo templo, porém, não é uma construção material, nem um santuário nacional, nem tem um terreno localizado. É um edifício espiritual (a família de Deus) […]. Ele não está vinculado a edifícios sagrados, mas, sim, as pessoas santas, a sua própria nova sociedade. Com esse povo Ele fez uma aliança solene. Deus vive nesse povo, individualmente e na comunidade.

Na prática, o propósito do Templo permanece como sendo o lugar de morada e de manifestação divina; porém, não mais em um prédio construído pelo homem, mas, sim, na própria vida daqueles que são fiéis. Cristo assim prometeu “[…] Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14.23).

2. O Santuário Cristão 

Como já declarado, os que pertencem a Cristo são comparados a um edifício onde Deus habita em Espírito (Ef 2.22). A frase “sois edificados para morada de Deus”, em alusão aos crentes em Cristo, indica um lugar de habitação de caráter inteiramente espiritual, e não físico. O ensino lembra a Salomão quando reconheceu, no dia da inauguração, que o Templo edificado por ele em Jerusalém não poderia conter a Deus: “[…] Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado” (1 Rs 8.27).

Nesse mesmo sentido, estão as palavras de Estêvão no sermão que ele proferiu aos seus algozes antes de ser apedrejado e morto: “[…] o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens” (At 7.48). Paulo chegou ao mesmo entendimento quando contemplava os vários santuários edificados pelos atenienses. O apóstolo, estando no meio do Areópago, chamou-os de supersticiosos e declarou: “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens” (At 17.24).

Desse modo, ao analisar as palavras de Salomão, Estêvão e também de Paulo, é possível compreender que Deus não habita em templo algum construído pelos homens, seja em Jerusalém (o Templo de Salomão) ou em qualquer outro lugar (o templo de Diana, em Éfeso, os templos em Atenas e os demais santuários pagãos). É dessa constatação que surge o conceito bíblico de santuário cristão, isto é, aquele que não é material, e sim espiritual. Isso significa que, na Nova Aliança, os crentes em Cristo — judeus ou gentios — tornaram-se o templo onde o Espírito de Deus habita: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16).

O apóstolo Pedro corrobora com esse ensino e desenvolve um quadro da igreja comparado a uma construção em que os crentes são descritos como “pedras vivas” em uma “casa espiritual” (1 Pe 2.5).

3. A Pedra Angular 

Em continuação à sua metáfora, Paulo afirma que, nesse edifício espiritual, “Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef 2.20). Aqui, o apóstolo faz alusão à arquitetura antiga, onde a construção de um edifício requeria uma pedra angular. Ela é traduzida como a “pedra mais importante” ou “pedra principal”, na qual a estrutura da construção era sustentada: Além de ser a pedra angular de um edifício parte do fundamento, e, portanto, suporte da superestrutura, ela determina sua forma final, visto que, ao estar colocada na esquina formada pela junção de duas paredes primárias, fixa a posição de duas paredes e das que cruzam no resto do edifício. 

Todas as demais pedras devem ajustar-se a ela. Em outros termos, a pedra angular era posta no canto do prédio para sustentar o alicerce, firmar e unir toda a estrutura e manter as paredes em linha certa. O Templo em Jerusalém tinha pedras angulares extremamente grandes. Para termos uma ideia da dimensão dessa pedra, em uma das escavações junto ao muro sul do Templo em Jerusalém, os arqueólogos encontraram um monólito medindo aproximadamente 12 metros de comprimento.

4. Cristo, a Pedra Principal

A identificação de Cristo como a pedra angular remonta à profecia messiânica em que a pedra rejeitada “tornou-se cabeça de esquina” (Sl 118.22). Ele mesmo afirmou ser a “cabeça da esquina” (Mc 12.10), e também os apóstolos testificaram ser Cristo “a pedra principal” (At 4.11; 1 Pe 2.7). Logo, sem dúvidas, a pedra angular deste novo santuário é o próprio Cristo. Stott realça essa imprescindível atuação de Cristo nos seguintes termos: Assim como um edifício depende, para sua coesão e para o seu desenvolvimento, de ser seguramente vinculado a uma pedra angular, assim também Cristo, a pedra angular, é indispensável para a união e o crescimento da igreja.

A não ser que esteja constante e seguramente relacionada com Cristo, a união da Igreja desintegrar-se-á e seu crescimento cessará ou será desordenado. Dessa maneira, tal qual a pedra angular, que sustenta e determina a forma de um edifício, assim igualmente é Cristo para com a Igreja.

Isso denota basicamente a fundamental importância e “a honra de Sua posição no edifício e também a maneira pela qual cada pedra é encaixada nEle, e pela qual acha verdadeiro lugar e utilidade apenas em relação a Ele (Cl 2.7; 1 Pe 2.4)”.Nesse contexto, no Sermão do Monte, aprendemos que o homem prudente edifica a sua “casa espiritual” sobre essa rocha, que é Cristo Jesus (Mt 7.24).

II. O FUNDAMENTO: APÓSTOLOS E PROFETAS 

1. O Conceito de Apóstolos 

O termo grego apóstolos é usado para “enviado” ou “mensageiro”. Todo o apostolado é centrado em Cristo, que foi enviado para ser o salvador do mundo (Hb 3.1; 1 Jo 4.14). Mateus, Marcos e Lucas usam o termo quando se referem aos 12 escolhidos por Cristo (Mt 10.2-5; Mc 6.30; Lc 6.13). Paulo, Tiago e, possivelmente, Barnabé também foram comissionados como apóstolos (At 14.14; 15.13; 1 Co 9.1-6; 15.8-9). Aos apóstolos foi confiado o ministério da Palavra para instruírem a Igreja (At 6.2-4).

Na perspectiva circunscrita do termo, os apóstolos da Igreja Primitiva foram as testemunhas oculares do ministério, morte e ressurreição de Jesus (At 1.21,22). Donald Stamps, editor-geral da Bíblia de Estudo Pentecostal, assegura: “[Eles] tinham autoridade ímpar na Igreja, no tocante à revelação divina e à mensagem original do evangelho, como ninguém mais até hoje. O ministério de apóstolo nesse sentido restrito é exclusivo, e dele não há repetição. Os apóstolos originais do NT não têm sucessores”.

Em contrapartida, Stamps também avalia que, se negligenciarmos o sentido geral do termo enviado ou mensageiro e essa postura fizer as “igrejas cessarem de enviar pessoas assim cheias do Espírito Santo, a propagação do evangelho em todo o mundo ficará estagnada”.Seguindo nessa direção, Elienai Cabral também entende que Deus ainda hoje comissiona certos homens para realizarem trabalhos específicos. De qualquer forma, os intérpretes, de modo universal, concordam que os apóstolos, como fundamento, referem-se unicamente aos comissionados por Jesus na Igreja Primitiva, que anunciaram a mensagem de Cristo o fundamento da Igreja.

2. A Doutrina dos Apóstolos 

Embora não se possa desassociar das pessoas e do ofício que ocupavam, o que constitui o fundamento da Igreja não é o ministério apostólico, mas, sim, a doutrina que os apóstolos ensinavam à Igreja, ou seja, as Escrituras (At 2.42; 2 Tm 3.16). Eles receberam essa revelação diretamente de Cristo (Rm 6.17; 1 Tm 1.3; 2 Pe 3.16). John Stott anota o seguinte: Em termos práticos, isto quer dizer que a Igreja está edificada sobre as Escrituras […]. São os documentos fundamentais da Igreja […]. Este não pode ser alterado por quaisquer acréscimos, decréscimos, ou modificações oferecidas por aqueles que em qualquer época aleguem ser apóstolos ou profetas. 

A igreja fica em pé ou cai, conforme sua dependência leal às verdades fundamentais que Deus revelou aos seus apóstolos e profetas, e que agora são preservadas nas Escrituras do Novo Testamento. Mattew Henry (1662–1714) corrobora com essa interpretação ao afirmar que Cristo investiu os apóstolos com “dons extraordinários, poder para operar milagres e uma infalibilidade para anunciar a sua verdade”.

O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento homologa esse entendimento ao enfatizar que os apóstolos estavam “autorizados pelo próprio Senhor Jesus Cristo para serem seus representantes na proclamação do evangelho e no estabelecimento da Igreja”.O evangelista Lucas registra no livro de Atos que a Igreja perseverava “na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). A expressão indica que davam atenção constante ao ensino dos apóstolos. O emprego do artigo definido na contração em+a (na) da expressão “na doutrina” aponta para um corpo específico de doutrinas.

E, assim como não se pode mexer na pedra angular depois de colocado o alicerce, o fundamento da Igreja também não pode ser violado. Cristo deixou isso bem esclarecido ao asseverar “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão de passar” (Lc 21.33). 

2. Os Profetas do Antigo Testamento

 A palavra grega prophetes significa proclamador e intérprete da revelação divina. No Antigo Testamento hebraico, a palavra empregada mais frequentemente é nabi, como sendo aquele que declara uma mensagem em nome de um superior. Nesse entendimento, o profeta do Antigo Testamento “era aquele em cuja boca Deus havia colocado suas Palavras, e que transmitia essas graciosas Palavras ao povo”.

Eles tinham acesso à presença dos reis. Ofereciam-lhes assessoramento e, quando necessário, até censuravam os seus atos (Is 7.3ss; 37.5-7; 2 Sm 12.7ss). Não obstante, a primeira mensagem messiânica registrada nas Escrituras foi proclamada diretamente pelo próprio Deus. No Éden, o Senhor anunciou que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente (Gn 3.15). Ao passar do tempo, Deus revelou aos profetas do Antigo Testamento os detalhes dessa promessa de redenção (Is 53.1-12). O livro aos Hebreus atesta que, antigamente, Deus falou muitas vezes e de várias maneiras, por meio dos profetas (Hb 1.1).

A mensagem anunciada acerca da salvação de pecadores não foi, no entanto, plenamente compreendida pelos profetas do Antigo Testamento, apesar de terem feito menção de bênçãos prometidas também aos gentios (Is 11.10; 49.6; 54.1-3; 60.1-3; Ml 1.11). Os gentios estavam alienados acerca dessa esperança, e os judeus não a entendiam ou, então, ignoravam essa possibilidade e, provavelmente, não a desejassem. Tais constatações, portanto, são razões suficientes para não incluir o testemunho dos profetas do Antigo Testamento como “fundamento” da Igreja.

Quanto a essa discussão, Stott avalia que talvez os profetas do Antigo Testamento estejam incluídos, mas pondera que a ordem invertida das palavras na citação bíblica, não de “profetas e apóstolos”, mas, sim, de “apóstolos e profetas”, indica que a referência seja aos profetas do Novo Testamento186. Nesse aspecto, o Comentário Bíblico Pentecostal assevera que, “em Efésios, as duas ocorrências onde apóstolos e profetas foram mencionados em conjunto (3.5; 4.11) a referência é claramente aos profetas cristãos como líderes da Igreja.

4. O Testemunho dos Profetas do Novo Testamento

 A função primária dos profetas do Novo Testamento “era similar à dos profetas do Antigo Testamento: anunciar a Palavra de Deus. Porém, eles ocasionalmente previam acontecimentos futuros (At 11.28; 21.9,11)”. O Comentário Bíblico Pentecostal destaca que os profetas “eram aqueles indivíduos especialmente dotados de receber e mediar diretamente a revelação recebida de Deus”. O Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal enfatiza que eles “tinham habilidades especiais no ministério das mensagens de Deus para o seu povo”.

Ainda na descrição do ofício dos profetas do Novo Testamento, Mattew Henry salienta que eles expunham os escritos do Antigo Testamento e prediziam as coisas do futuro.Paulo assegura que a compreensão do mistério que estivera oculto no passado — de que os gentios tinham igual posição no corpo de Cristo e eram participantes da promessa — foi revelado pelo Espírito Santo aos profetas do Novo Testamento (Ef 3.4-6). Assim, reitera-se o posicionamento de que os profetas do Novo Testamento, “homens santos de Deus [que] falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21), perfazem o alicerce da Igreja de Cristo.

Em relação ao propósito do profeta em nossos dias, o Comentário Bíblico Pentecostal considera que “líderes visionários e santos, pessoas cheias da Palavra e do ‘espírito de sabedoria e de revelação’ (Ef 1.17), continuam a ser necessárias para liderar a Igreja”.Elienai Cabral concorda, mas faz o alerta de que nenhuma profecia pode “acrescentar outra verdade que não tenha base nas Escrituras, mas para edificar, exortar e consolar com base nas verdades já reveladas na Bíblia”.Desse modo, no sentido “restrito”, o testemunho dos profetas como fundamento da Igreja limita-se ao Novo Testamento.

Ratifica-se, portanto, que o fundamento no qual a Igreja de Cristo está edificada encontra-se nas Escrituras Sagradas, a revelação escrita de Deus dada pelo Espírito Santo, sendo essa revelação a única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão (2 Tm 3.14-17).

III. EDIFICADOS PARA MORADA DE DEUS 

1. Edifício bem Ajustado 

A expressão “no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce” (Ef 2.21a) indica um processo contínuo de desenvolvimento (2.21). Paulo já tinha afirmado que Cristo é a pedra angular desse edifício (2.20b) e agora acrescenta outro pensamento, isto é, “Cristo, além de ser o princípio de estabilidade e diretriz da igreja, é também o princípio de seu crescimento”.O edifício espiritual está alicerçado em Cristo e fundamentado no ensino revelado aos apóstolos e no testemunho dos profetas. 

Esse edifício é um organismo vivo que está em crescimento. A ele são acrescentadas contínua e individualmente “pedras vivas” que coletivamente formam o edifício todo (a Igreja). As pedras incorporadas ao conjunto, “pedra de esquina” (Cristo) e “fundamento” (apóstolos e profetas), são harmoniosamente ajustadas umas às outras. Nesse sentido, cada crente fiel ocupa uma posição e um lugar certo no templo de Deus ajustado perfeitamente conforme a vontade do Senhor da Igreja.

E essa participação individual de cada crente na construção desse edifício refere-se à ação da igreja militante, que tem de crescer e progredir. Em outro aspecto não menos importante, Stott lembra que “o templo de Jerusalém era um edifício exclusivamente judaico, no qual todos os gentios eram proibidos de entrar. Agora, porém, não apenas lhes é permitido a entrada, como eles mesmos são partes integrantes do templo de Deus”.

Em síntese, todas as partes desse edifício espiritual precisam estar unidas e em harmonia (Cl 2.2; 1 Co 1.10). Isso significa que o crescimento da Igreja depende de tudo estar bem ajustado a Cristo (Rm 14.15-16; 2 Co 13.11). Toda pedra que estiver fora do prumo ou desalinhada torna-se um perigo para o fundamento. Nessa construção, se formos corretamente colocados sobre Ele e edificados juntamente com Ele, permaneceremos firmes.

Todo salvo em Cristo passa a comportar-se como filho obediente e, assim, começa a evidenciar o fruto do Espírito na sua vida (1 Pe 1.14; Gl 5.22). O avanço prossegue até alcançar pleno conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida completa de Cristo (Ef 4.13). Por conseguinte, todo crente bem ajustado torna-se “templo santo no Senhor” (2.21b). 

2. Templo santo no Senhor 

A palavra aqui usada para templo não é o termo grego hieron, que se refere à totalidade da construção, mas, sim, o vocábulo nãos, que designa o recinto interior (o Lugar Santíssimo). Esse era o lugar do encontro do sumo sacerdote com Deus. O escritor aos Hebreus afirma que o acesso era limitado: “No segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo” (Hb 9.7). A expressão “o segundo” refere-se à parte “interna” do Tabernáculo ou ao “Santo dos Santos”. A menção do sangue pressupõe a morte da vítima sacrifical e faz alusão à santidade da vida e, por isso, à santidade do sangue e ao elevado custo da expiação de Cristo.

Nesse aspecto, Hendriksen enfatiza que é por causa do sangue e do Espírito de Cristo que esse novo templo é santo, limpo e consagrado. A analogia paulina, todavia, não se refere a alguma nova estrutura material, mas, sim, ao crente que se tornou templo santo (1 Co 3.16). Nessa perspectiva, libertos e separados do pecado, quem pertence a Cristo passa a viver em santidade e andar em “novidade de vida” (1 Pe 1.15; 1 Jo 1.7; Rm 6.4). E, como indescritível resultado, ao desfrutar da comunhão divina, o crente salvo recebe acesso livre à presença do Pai e torna-se “morada de Deus em Espírito” (Ef 2.22b; Hb 10.19-21).

3. Morada do Altíssimo

No Antigo Testamento, a expressão “morada de Deus” fazia alusão ao Tabernáculo e, depois, ao Templo israelita. A expressão indicava lugar de habitação permanente do Divino e de comunhão íntima com o fiel e sempre se referia a um santuário físico. O edifício construído em um lugar sagrado também era o lugar de celebração do culto e da adoração. Para cultuar e encontrar-se com Deus, era necessário deslocar-se até o local onde o Templo estava erigido (ver 1 Sm 1.21). Na Nova Aliança, porém, esse conceito de morada do Altíssimo é modificado: Cristo ao vir a terra tornou obsoleto o tabernáculo, templos feitos por mãos humanas.

Ele mesmo (Jesus) tornou-se um lugar de habitação divina entre os homens, uma verdade que é expressa especialmente em João 1.14 e 2.19-21. E este templo já não está mais entre os homens, e agora Deus procura para sua habitação as vidas de homens que o permitiram entrar por seu Espírito. Esse entendimento é comprovado pelas palavras de Cristo à mulher samaritana junto ao poço de Jacó (Jo 4.24). Ela tinha dúvidas acerca do lugar físico adequado para a adoração. Seria no monte em Samaria ou no Templo em Jerusalém? (Jo 4.20).

A esse questionamento, Cristo respondeu que estava chegando a hora em que a adoração não seria “nem neste monte nem em Jerusalém” (Jo 4.21); e, em seguida, explicou-lha claramente que se aproximava o tempo da inauguração de um novo conceito de culto: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (Jo 4.23). Desse modo, a doutrina bíblica assegura que o crente, por meio da obra de Cristo, tornou-se templo santo no Senhor (Ef 2.21b).

Isso indica que Deus habita em nós por meio do seu Espírito (2.22). Essa afirmação ratifica que Deus “não habita em templos feitos por mãos de homens (At 17.24). Ele reside dentro de cada cristão individualmente e também no corpo inteiro de crentes, que é a Igreja formada de judeus e gentios (Jo 14.23; 1 Co 3.16).