Iluminação Espiritual do crente [ EBD ] 2° Trim. 2020

Lição 04: A Iluminação Espiritual do Crente

Lição 4: iluminação espiritual do crente Escola Dominical | 2° Trimestre De 2020 – Subsídio Apoio ao Professor

Nesta lição estudaremos as bênçãos espirituais e a profunda esperança que cada crente deve guardar em Cristo. O plano de salvação divina revela uma santa vocação, as riquezas da herança divina e a grandeza do poder de Deus. Uma vez salvos, somos vocacionados para a santidade, o serviço e a participação gloriosa no porvir, desfrutamos das riquezas da glória divina experimentando o perdão dos pecados, a adoção de filhos e as bênçãos a ser desfrutadas no porvir. Uma vez salvos, seremos glorificados a exemplo de Cristo Jesus. 

(Efésios 1.17) “Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação”.

Introdução

Ao término da maravilhosa doxologia presente na perícope 1.3-14, onde Deus é profundamente louvado por todas as bênçãos espirituais concedidas em Cristo, Paulo dá início à outra longa sentença que pode ser assim dividida: ação de graças (Ef 1.15-16); oração intercessória (1.17-19) e confissão de louvor e exaltação (1.20-23). A doxologia dos versos 1.3-14 foi escrita em tom mais contemplativo, mas agora a escrita do apóstolo torna-se mais pessoal. Ele passa a agradecer a Deus pela fé e o amor na vida dos seus leitores e a orar por eles para que sejam iluminados a fim de compreender a dimensão da chamada e herança divina, bem como entender a grandeza do poder de nosso Deus (1.18-19).

Após registrar a sua alegria e gratidão pelas boas notícias das quais estava informado acerca deles (1.15), o apóstolo demonstra sincera preocupação com o crescimento e amadurecimento espiritual dos seus destinatários. Esse sentimento é característico de Paulo em relação aos seus filhos na fé. Aos Gálatas, ele escreveu que sentia dores de parto, até que Cristo fosse formado na vida dos fiéis (Gl 4.19). Essa postura deve nortear a vida da Igreja hodierna: não devemos apenas agradecer pelos que estão sendo salvos, mas também interceder para que todos alcancem a estatura de Cristo e perseverem na fé até o fim. O Comentário Bíblico Pentecostal afirma que, nesse contexto, a expressão “lembrando-me de vós” significa “pedindo em seu nome”, sendo esse o sentido da intercessão, ou seja, pedir em favor de outro.

A tradução literal, “fazendo menção de vós”, sugere que, na sua intercessão, Paulo trouxe realmente os seus leitores à presença de Deus mencionando os seus nomes. Desse modo, aprendemos aqui a importância, a necessidade e o propósito da oração intercessória. 

I. A ESPERANÇA DA VOCAÇÃO E AS RIQUEZAS DA GLÓRIA 

1. Ação de graças e intercessão

Como já afirmado, o apóstolo rende graças a Deus pela vida dos santos (Ef 1.15-16) e por todas as bênçãos espirituais recebidas, tais como a eleição, a filiação e o dom do Espírito Santo (1.3-14). Paulo tinha recebido informações acerca da genuína conversão e do bom testemunho dos cristãos na região da Ásia Menor: “Pelo que, ouvindo eu também a fé que entre vós há no Senhor Jesus e o vosso amor para com todos os santos” (1.15).

Provavelmente, Epafras ou Tíquico tinham sido os portadores de tão alvissareira notícia. O versículo chama atenção para as expressões “fé em Jesus” e “amor para com os santos”, que formam um exato paralelo com Colossenses 1.4. Stott avalia que “todo cristão crê quando ama. A fé e o amor são graças cristãs básicas, como também é a esperança […]. É impossível estar em Cristo e não se achar atraído tanto a Ele na fé como ao seu povo em amor”.80 Nesse mesmo entendimento, Russell Shedd expressa: “É impossível separar a fé e o amor, pois esse versículo nos mostra que eles são dois lados da mesma moeda.

Quem se compromete com Cristo, compromete-se com os seus irmãos e com o mundo perdido”.Imediatamente após a nota de gratidão e adoração a Deus pela vida dos eleitos, Paulo intercede ao Pai da glória para que seja concedido aos seus leitores “o espírito de sabedoria e de revelação” (1.17). O vocábulo espírito é usado por Paulo com significados distintos. Por isso, para evitar equívocos de interpretação, é preciso observar que, “com o artigo, na maioria das vezes a palavra indica a pessoa do Espírito Santo; ao passo que, sem ele, indica alguma manifestação ou concessão especial do Espírito Santo”. Nesse caso, devemos entender “espírito de sabedoria e de revelação” como um dom do Espírito Santo capaz de tornar alguém sábio para compreender o plano divino revelado.

Nessa questão, o Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento confirma que “um espírito de sabedoria e revelação somente poderia ser concedido através dEle, que é pessoalmente o espírito da sabedoria e da revelação”. Paulo era consciente dessa verdade e, por conseguinte, da impossibilidade de alguém perceber a glória dessas boas novas se elas não fossem ensinadas por Deus (1 Co 2.14-15). Desse modo, a compreensão da “esperança da sua vocação” (1.18b), “as riquezas da glória da sua herança” (1.18c) e a “grandeza do poder de Deus” (1.19) não são possíveis separadamente do Espírito Santo, sobre quem Isaías descreve como: “o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11.2, ARA). 

2. A Esperança da vocação

Na sequência da intercessão, o apóstolo ratifica a necessidade de os cristãos na Ásia Menor terem “iluminados os olhos do vosso entendimento” (1.18a). A expressão tem paralelo ao versículo anterior referente ao espírito de sabedoria e de revelação. Segundo Beacon, trata-se de outro meio de descrever o dom, que resulta em “iluminação interior”. Ter os olhos iluminados implica em ver melhor, ter um conhecimento mais claro das bênçãos divinamente recebidas. Também inclui uma compreensão plena, não somente clareza intelectual, mas também a clareza espiritual e experimental.

O vocábulo “entendimento” é a tradução do grego kardia (coração). Na linguagem bíblica, o coração não se refere meramente às emoções ou à vontade, mas também ao centro de toda a personalidade. Para os judeus, “o coração era o núcleo da personalidade, a pessoa interior completa, o centro do pensamento e do julgamento moral”. Isso denota que a compreensão do chamamento divino não pode ser superficial e que, por conseguinte, o cristão não deve viver uma espiritualidade mediana, mas ser transformado pela renovação do entendimento, devendo experimentar sempre “qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2b). Nesse sentido, Paulo intercede para que o Espírito Santo ilumine os crentes a fim de saberem “qual seja a esperança da vocação” (1.18b); em outras palavras, para que fossem capazes de experimentar e conhecer profunda e espiritualmente os privilégios de serem vocacionados.

Essa esperança e essa chamada têm uma dimensão passada, presente e futura e está centrada em Cristo: a) Deus chamou a Igreja no passado (ver 2 Tm 1.9). Essa chamada foi iniciativa de Deus e deu-se a partir da eleição da qual fazemos parte (1.3-14); b) a chamada abrange serviço e santificação no presente (ver Fp 3.13,14). Inclui ser irrepreensível, viver em comunhão e andar de modo digno (1.4; 2.11-18; 4.1); c) a participação gloriosa no futuro (5.27), que compreende a vida eterna e a esperança de conhecer Deus face a face (1 Co 13.12). Nesse aspecto, pode-se afirmar que “existe esperança nessa vocação”.

Consiste na firme convicção e absoluta confiança em Cristo de que cada uma das suas promessas será cabalmente cumprida. Essa compreensão conduz o crente a uma entrega total, obediência irrestrita e verdadeira fidelidade a Cristo durante todos os dias da caminhada cristã. Aleluia!

3. As Riquezas da Glória da sua Herança

O apóstolo insere na oração o pedido para que os crentes também entendessem “as riquezas da glória da sua herança” (Ef 1.18c). A expressão “sua herança” enfatiza tudo o que está prometido e assegurado por Deus aos seus eleitos (Cl 1.12). Alguns comentaristas sugerem que se refere à herança que Deus possui entre o seu povo, mas o texto correlato em Colossenses 1.12 (“dando graças ao Pai, que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz”) sinaliza outra interpretação; ou seja, a herança de Deus refere-se àquilo que Ele planejou conceder aos fiéis.

Nesse pressuposto, a herança abrange as muitas “riquezas da glória”. Refere-se, então, às maravilhosas bênçãos que acompanham o plano da salvação. Aquelas que já usufruímos, tais como o perdão, a adoção de filhos, o selo do Espírito Santo e as que serão desfrutadas no porvir (Cl 1.27; 1 Pe 1.4-5). Em relação àquelas que ainda aguardamos, Paulo assevera que está muito além de nossa capacidade de imaginar e ainda sobrepuja nossas maiores expectativas. São coisas que o olho não viu e o ouvido não ouviu e sequer “subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam” (1 Co 2.9).

Também Pedro, ao dissertar acerca de nossa herança celestial, apresenta uma terminologia farta de profundos significados, a saber, “uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus” (1 Pe 1.4). Aleluia! Quantas riquezas! Quanta glória! Não é possível mensurar o seu valor, e nosso escasso e finito vocabulário não consegue descrever. Porque fomos adotados como filhos, logo passamos a ser herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm 8.17). O selo do Espírito Santo é o penhor dessa herança (1.14). No tempo presente, já desfrutamos parte dela e, finalmente e em definitivo, pela sua graça, todos os salvos tomarão posse da herança preparada desde a fundação do mundo (Mt 25.34).

 II. A SOBREEXCELENTE GRANDEZA E FORÇA DO PODER DIVINO

1 – Sobreexcelente Grandeza do seu Poder

Paulo também intercede para que os salvos possam entender a “sobre-excelente grandeza do [poder de Deus] sobre nós” (1.19a). Aqui, o apóstolo faz uso de pleonasmo (redundância de termos e excesso de palavras) com o propósito de conferir maior vigor ao que está sendo expresso. Trata-se de um artifício linguístico empregado por Paulo na tentativa de descrever o imensurável poder de Deus. A palavra “sobre-excelente” é tradução do grego uperballõ, que, na forma adjetivada, significa “supremacia ou extraordinário” (2 Co 4.7). Segundo Roger Stronstad, “somente Paulo faz uso dessa palavra em todo o Novo Testamento (cf. 2.7; 3.19) e reflete seu desejo, quase irrealizado, de manifestar através das palavras a inexprimível grandeza do poder de Deus”.

Outra expressão utilizada é megethos (grandeza), que objetiva especificamente enaltecer a magnitude do poder de Deus que a tudo sobrepuja (Mt 26.64). O próximo termo na construção da frase é dunamis, aqui traduzido por “poder”. Essa palavra grega originou os termos “dinâmico”, “dínamo” e “dinamite” e representa a potência desse poder, apontando para os feitos miraculosos que requerem força fora de medida (ver At 8.13). A repetição desses termos enfatiza que apenas o maior de todos os poderes é capaz de realizar a transformação e a salvação na vida do homem (2 Pe 1.4). Salienta que somente um poder tão grande assim pode operar e concretizar as bênçãos inclusas na “esperança da vocação” dos eleitos e as “riquezas da herança” prometida aos crentes (Ef 1.18).

Convém ressaltar que essa afirmação não implica em assegurar a salvação independentemente do que façamos de errado. Ao contrário, sinaliza que a fé dos eleitos na suficiência do poder de Deus é absolutamente necessária para uma caminhada de fidelidade e firmeza, tomando todo o “cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança” (Hb 6.11).

2. A Força do Poder Divino

Nessa sentença “segundo a operação da força do seu poder” (Ef 1.19b), o apóstolo faz uso de três vocábulos gregos concordes entre si: “operação, força e poder”. A palavra “operação” é tradução do grego energeia (em português, “energia”), que também significa “eficácia” e que sinaliza “poder em atividade” (Cl 1.29). A segunda expressão é “força”, que vem do termo grego kratos com a ideia de “intensidade”. Denota poder como força magistral — aquele que vence as resistências. Refere-se “aquele tributo distintivo da natureza divina tão louvado nas doxologias do Novo Testamento (1 Tm 6.16; 1 Pe 4.11; 5.11; Jd 25; Ap 1.6; 5.13)”.

O terceiro termo grego aqui empregado é “ischus”, que indica o “poder inerente” de Deus (Jo 1.12; 2 Pe 2.11). Stronstad faz analogia ao “poder do braço de um homem; poder que está disponível sempre que for necessário”. O uso reiterado desses sinônimos indica a plenitude do poder de Deus. Esse incomensurável poder realiza qualquer coisa, tudo o que lhe apraz. Está acima de tudo e de todos e não depende de nada, nem de ninguém. Em síntese, todo esse esforço gramatical do apóstolo visa deixar claro aos seus leitores a supremacia do poder de Deus. Acontece que muitos desses novos cristãos vieram do paganismo e da prática das artes mágicas (At 19.9).

Desse modo, existia a probabilidade de que alguns dos conversos ainda vivessem com temor de tais poderes das trevas. Essa ideia recebe reforços quando, mais adiante, Paulo afirma que o nome de Cristo está muito acima de quaisquer outros poderes (Ef 1.21), tema que abordaremos com mais detalhes nas páginas seguintes. De fato, a associação desses conceitos assinala que o potencial poder de Deus, inerente à natureza divina, opera em favor daqueles que creem. Após essa impressionante e insistente descrição, Paulo apresenta três exemplos irrefutáveis da força desse poder: (1) a ressurreição de Cristo, (2) a sua ascensão à direita de Deus nos céus (1.20) e (3) a sua elevação acima de todo o domínio (1.21-22). No ponto a seguir, veremos a demonstração desse incalculável poder. 

III. CRISTO: NOSSO EXEMPLO DE EXALTAÇÃO 

1. Cristo, as Primícias dos que dormem

Paulo enfatiza que a primeira grande evidência do poder de Deus manifestou-se em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos (ver Ef 1.20a). Verdadeiramente, o Novo Testamento descreve a ressurreição de Cristo como obra do poder de Deus Pai. No discurso de Pedro no dia de Pentecostes, o apóstolo da circuncisão afirmou acerca de Cristo: “Deus o ressuscitou dos mortos, rompendo os laços da morte” (At 2.24, NVI) e acrescentou à mensagem o testemunho ocular dos demais discípulos: “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas” (At 2.32).

Tempos depois, por ocasião da cura do coxo de nascença, Pedro declarou, diante do povo maravilhado, que o poder de Deus ressuscitara a seu Filho Jesus (ver At 3.26). E, quando da segunda viagem missionária, no Areópago em Atenas, Paulo descreveu o poder de Deus aos atenienses dizendo: “E [Deus] deu provas disso a todos, ressuscitando-o [Cristo] dentre os mortos” (At 17.31, NVI). O túmulo vazio testemunhado pelas mulheres (Mt 28.6,11), presenciado pelos soldados da guarda do sepulcro (Mt 28.11) e constatado por Pedro e João (Jo 20.3-8), bem como o aparecimento a Saulo de Tarso, e a Tiago, e ainda a mais de 500 pessoas (1 Co 15.5-8) eram provas irrefutáveis tanto do poder de Deus como do evento da ressurreição. Anos depois, ao escrever aos Coríntios, Paulo precisou combater a heresia daqueles que não criam na ressurreição dos mortos (1 Co 12).

A reprimenda do apóstolo e o argumento utilizado demonstram que a morte e a ressurreição de Cristo são a viga mestra e o pilar da fé cristã, pois, “se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação” (1 Co 15.13-14). A ressurreição de Cristo não é meramente a recuperação da fé de amedrontados discípulos diante da crucificação do seu líder ou, simplesmente, o Kérigma da Igreja anunciando a vitória do Messias sobre a morte. A ressurreição de Jesus é um evento histórico. Ela foi real e corporal (física), conforme profetizado no Antigo Testamento (Sl 16.8-10) e previamente anunciada pelo próprio Senhor Jesus Cristo (Jo 2.20-22). Ao contrário daqueles que a consideram um mito, a ressurreição de Cristo é doutrina elementar na Bíblia Sagrada (1 Co 15.3-4), sendo mencionada 104 vezes no Novo Testamento.

Por conseguinte, segundo as Escrituras, ao ressurgir dentre os mortos, Cristo foi feito as primícias dos que dormem (1 Co 15.20- 22). Isso significa que Cristo foi o primeiro a ressuscitar e permanecer vivo. No registro das outras ressurreições, as pessoas tornaram a morrer. Isso indica que, a começar por Cristo, muitos outros desfrutarão dessa dádiva. Essa é a mesma ideia presente em Colossenses 1.18: “[Cristo] é o princípio e o primogênito dentre os mortos”. Quanto à abrangência dessa declaração, John Stott escreveu que Deus “levantou Jesus para uma vida totalmente nova (imortal, gloriosa e livre), que ninguém experimentara antes, e que ninguém experimentou depois, pelo menos por enquanto”.

A ressurreição de Jesus, portanto, é a garantia de que igualmente seremos ressuscitados (1 Ts 4.14). De sorte que o mesmo poder que ressuscitou a Cristo está disponível também aos salvos (ver Ef 2.6). Desse modo, os crentes em Cristo vencerão a morte e erguer-seão gloriosamente dos seus sepulcros para reinarem eternamente com Cristo (Jo 5.28,29; Fp 3.20,21). E, por ocasião do ressoar da trombeta de Deus (1 Ts 4.16), aqueles que ainda estiverem vivos por ocasião da sua vinda serão arrebatados para juntamente com os ressuscitados encontrar a Cristo “e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Ts 4.17). Nesse dia, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e todos serão transformados e revestidos da imortalidade (1 Co 15.51-53). Então, cumprir-se-á a palavra que está escrita: “Tragada foi a morte na vitória” (1 Co 15.54).

2. Cristo Elevado à Direita de Deus

Após chamar Cristo da sepultura, Deus elevou-o para o trono “pondo-o à sua direita nos céus” (Ef 1.20b). Aqui está em foco a ascensão de Cristo como cumprimento da promessa messiânica: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita” (Sl 110.1a). Estêvão, o primeiro mártir cristão, contemplou o Cristo ressurreto à direita de Deus (At 7.56). O grau de exaltação para essa posição de honra e autoridade indica a completa vitória de Cristo sobre o pecado e as forças do mal (Fp 2.9-11; Cl 2.15). Acerca da simbologia da expressão “pondo-o à sua direita nos céus” e da sublimidade dessa posição, o Comentário Bíblico Beacon descreve o seguinte: O assento à direita de um rei oriental sempre era reservado para o primeiro-ministro ou chefe de governo, simbolizando não só honra e dignidade, mas também poder delegado.

No caso de Cristo, significa que Ele foi investido com o senhorio soberano e o domínio universal. Nos lugares celestiais, seria nas regiões onde Deus está em ação. Assim, a entronização de Cristo ao lugar de maior honra sinaliza todo o seu poderio e faz lembrar as suas palavras após a ressurreição: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18) e ainda nos remete, outra vez, ao Salmo messiânico que diz: “o Senhor estenderá o cetro de teu poder desde Sião, e dominarás sobre os teus inimigos!” (Sl 110.2, NVI). Stronstad recorda o autor aos Hebreus quando explica que: “embora ainda não vejamos todas as coisas subjugadas a Ele, ainda assim vemos a Jesus coroado de glória e de honra” (Hb 2.8,9).

A vitória de Cristo sobre a morte e as trevas também está assegurada aos salvos (1 Co 15.55-57) e endossa nossa participação no reino celestial conforme indica a expressão “[…] nos fez assentar nos lugares celestiais” (Ef 2.6). Significa que esse acontecimento confere aos remidos a esperança de reinarem com Cristo para todo o sempre (Ap 22.5). Stott anota que “nossa identificação com Cristo na sua ressurreição e exaltação não é um item de misticismo cristão sem sentido. É o testemunho a uma experiência viva, de que Cristo nos deu, por um lado, uma vida nova […] e, por outro, uma vida de vitória”. Assim, a ressurreição, a ascensão e o reinado de Cristo são obras do poder do Pai que estão disponíveis à sua Igreja.

3. Cristo Exaltado Sobremaneira

Nesse ponto, Paulo sanciona que o poder de Deus exaltou Cristo “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio” (Ef 1.21a). Essa declaração faz analogia com o texto messiânico em que todos os inimigos estariam sobre o estrado dos pés de Cristo (Sl 110.1b). Nesse sentido, a primeira parte dessa sentença indica que Cristo foi exaltado acima de todas as forças do mal (principado, poder, potestade e domínio), e a segunda parte onde se lê acima “de todo o nome que se nomeia” (Ef 1.21b) deve incluir também “os anjos e qualquer outro ser inteligente que se possa conceber, sobre os quais Jesus reina com supremacia absoluta”.

Isso significa que Cristo foi exaltado acima de toda eminência do bem e do mal e de todo título que se possa conferir nessa era e também no porvir. Não existe poder algum que seja maior e nem mesmo igual ao poder de Cristo. Deus exaltou-o sobremaneira tendo sido “nomeado como o soberano acima de todas as coisas, isto é, o chefe supremo da criação, a manifestação final do que nos espera no futuro (cf. 1.10)”. Mais adiante, a fim de não restar dúvidas, Paulo atesta o cumprimento das profecias messiânicas na pessoa de Jesus (Sl 8.6; 110.1) ao declarar que Deus sujeitou todas as coisas aos pés de Cristo (ver 1.22a).

Esse versículo é novamente utilizado por Paulo na primeira Epístola aos Coríntios. Nessa referência, o apóstolo enfatiza que o Soberano delegou ao Filho o poder que lhe trouxe a sujeição de tudo para que Deus, o Pai, seja tudo em todos (1 Co 15.27,28). O resultado efetivo da exaltação do Messias traz duplo benefício para a Igreja: primeiro, que Deus fez Cristo cabeça tanto do Universo como da Igreja (1.22). E, segundo, que Deus designou a Igreja para ser a expressão plena de Cristo (1.23). Nas palavras de Hendriksen, o poder de Deus manifestado em Cristo não está adormecido, mas “está sendo utilizado no governo do universo no interesse da Igreja”. Quer dizer que nenhum poder pode prevalecer contra a Igreja (Mt 16.18).

Diante dessas verdades espirituais, em que o Senhor de tudo foi dado como Cabeça da Igreja, não há razão para os salvos temerem a oposição do homem ou das forças do mal. Aliás, mais para frente, o apóstolo vai convocar os fiéis “fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” para enfrentar e vencer as astutas ciladas do diabo (6.10-12). Mercê do conjunto dessas revelações, o Comentário de Aplicação Pessoal assevera que “Cristo não tem igual ou rival. Ele é superior a todos os outros seres. Estas palavras devem encorajar os crentes, porque, quanto mais alta a honra de Cristo, que é a Cabeça, mais alta a honra de seu povo”.